Diretamente de São Paulo, a falar aos seus apoiantes e ao mundo, Fernando Haddad fez questão de agradecer aos seus antepassados, com quem aprendeu "a defender a justiça a qualquer preço", e aos 45 milhões de eleitores que o acompanharam nesta reta final.
"Vivemos um período em que as instituições são colocadas à prova a todo o instante", disse Haddad, fazendo referência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e à prisão "injusta" do ex-presidente Lula da Silva, condenado a 12 anos de cadeia no âmbito do caso de corrupção Lava Jato.
Apesar da derrota, Fernando Haddad disse-se comprometido com a defesa da democracia brasileira numa altura em que estão em risco "os direitos civis, trabalhistas e sociais".
"Temos a responsabilidade de fazer oposição colocando os interesses nacionais acima de tudo, porque nós temos um compromisso com a prosperidade desse país", disse.
Fernando Haddad, que se candidatou em substituição de Lula pelo Partidos dos Trabalhadores, garantiu que o PT "não vai deixar o país para trás". "Daqui a quatro anos teremos novas eleições (...) e não vamos deixar de exercer a nossa cidadania. Talvez o Brasil nunca tenha precisado tanto do exercício da cidadania como agora", sustentou.
“A soberania nacional e a democracia como nós a entendemos é um valor que está acima de todos nós. Nós temos uma nação, nós temos que defendê-la daqueles que de forma desrespeitosa pretendem usurpar o nosso património, o património do povo brasileiro”, acrescentou.
Para aqueles que não se sentem representados na figura - e nos discursos de Jair Bolsonaro (PSL) — Fernando Haddad deixou uma mensagem: "Não tenham medo, nós estaremos aqui, nós estamos juntos, nós abraçaremos as causas de vocês, coragem."
O candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) foi hoje eleito Presidente do Brasil, com 55,6% dos votos quando estavam 92,08% das secções de voto apuradas. Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral, que começaram a ser divulgados às 19:00 locais (22:00 em Lisboa), Fernando Haddad (PT, esquerda), conquistou 44,4% dos votos contabilizados.
A segunda volta das eleições presidenciais foi disputada entre Jair Bolsonaro, militar na reserva e deputado federal há 27 anos que passou por diversas forças políticas e este ano se filiou no PSL, e Fernando Haddad, professor universitário, do PT, que foi ministro da Educação nos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff e prefeito de São Paulo.
Capitão do exército reformado e defensor da ditadura militar – regime que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 -, Jair Messias Bolsonaro nasceu a 21 de março de 1955 (63 anos) e iniciou a carreira política como uma figura caricata de posições extremas e discursos agressivos em defesa da autoridade do Estado e dos valores da família cristã.
Chamado de “mito” e “herói” pelos seus apoiantes e de “perigo à democracia” por críticos e adversários, Jair Bolsonaro está na política brasileira há 28 anos e foi eleito deputado (membro da câmara baixa) sete vezes consecutivas, mas sem nunca ter ocupado um cargo importante no Parlamento.
Bolsonaro ganhou notoriedade nos últimos anos e transformou-se num líder capaz de mobilizar milhares de eleitores desiludidos com a mais severa recessão económica da história do Brasil, que eclodiu entre os anos de 2015 e 2016, ao mesmo tempo em que as lideranças políticas tradicionais do país têm sido envolvidas em escândalos de corrupção.
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