
Por vezes, os maiores achados estão bem diante dos nossos olhos — mesmo quando se escondem sob capas de livros antigos e aparentemente banais. Uma descoberta recente nos arquivos da Universidade de Cambridge, em Inglaterra, veio reforçar o ditado que alerta a não julgar um livro pela capa.
Segundo a CNN, durante a análise de um registo de propriedades datado do século XVI, os arquivistas da universidade britânica aperceberam-se de algo insólito: a encadernação do documento era, afinal, composta por páginas reaproveitadas de um manuscrito medieval.
Os especialistas de Cambridge suspeitam que o pergaminho foi reutilizado como capa numa época em que os manuscritos medievais, muitas vezes considerados obsoletos, eram aproveitados para encadernações ou outros fins práticos. Esse tipo de reaproveitamento era comum nos séculos XV e XVI, quando o papel começou a substituir o pergaminho e muitos textos antigos perderam o seu valor original aos olhos das comunidades letradas.
O documento original remonta ao século XIII e revela passagens raras da chamada Suite Vulgate du Merlin — uma narrativa em francês antigo que descreve episódios lendários da juventude do Rei Artur e a influência do mago Merlin.
Para ser possível ler a história, em vez de desmontar fisicamente a capa do documento e correr o risco de danificar as frágeis páginas, os investigadores optaram por um método inovador: uma "desenrolagem" virtual. Através da fotografia de alta resolução e de técnicas avançadas de imagem, foi possível "descolar" visualmente as camadas do pergaminho e revelar os textos escondidos com nitidez.
A equipa responsável pela investigação, que envolve conservadores, académicos e fotógrafos especializados, considera que esta descoberta contribui significativamente para o estudo da literatura medieval e da transmissão de textos ao longo dos séculos. Além disso, demonstra o valor inestimável de técnicas não invasivas na preservação e recuperação de património histórico.
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