Em entrevista à Lusa com vista às legislativas de 2022, Francisco Rodrigues do Santos classificou o CDS-PP como “o partido que pode dar um passaporte ao PSD para poder governar Portugal” e admite a presença da Iniciativa Liberal num Governo de centro-direita – mas não o Chega – se este partido “parar com concessões à esquerda”.
“Eu tenho a certeza absoluta de que o CDS e o PSD devem alimentar a ideia de poder sozinhos conseguir governar o país. E é nesse foco que temos que trabalhar, porque de acordo com a nossa tradição democrática nós nunca precisámos de outras forças políticas para ter uma maioria parlamentar”, defendeu.
Questionado se esse é um cenário realista face às tendências das sondagens – que colocam partidos como Chega e IL à frente do CDS-PP -, Rodrigues dos Santos deu o exemplo da Câmara Municipal de Lisboa, em que essas novas forças políticas não integraram a coligação.
“Devemos trabalhar nesse sentido. Depois contam-se os votos e há uma solução, cabe depois às outras forças políticas dizer se votam ou não essa solução”, afirmou.
Questionado se se sentiu traído por a direção de Rui Rio não ter aprovado uma coligação pré-eleitoral entre os dois partidos, Rodrigues dos Santos respondeu de forma indireta.
“Não posso dizer que fui eu quem se sentiu traído. Quem se sentiu traído certamente foram todos os eleitores de centro-direita que, desde as eleições dos Açores até às eleições autárquicas, acharam que Rui Rio era verdadeiramente alguém que queria construir uma solução alternativa ao Partido Socialista”, afirmou.
Rodrigues dos Santos atribuiu a opção do PSD – uma decisão maioritária da Comissão Política – a uma estratégia que “passa também pela possibilidade de poder entender-se com o Partido Socialista para viabilizar o Governo de António Costa”.
“Não quis prejudicar essa janela aberta com uma alternativa de centro-direita”, disse, reiterando que nunca o CDS votará para viabilizar um Governo de bloco central.
Apesar de considerar natural o entendimento pós-eleitoral com o PSD, há pelos menos duas matérias que o CDS incluiu nas suas “linhas azuis” (a forma como designam as chamadas linhas vermelhas): os democratas-cristãos são contra a eutanásia e contra a regionalização, incluindo a realização de um novo referendo.
No primeiro caso, o líder do CDS espera, num eventual entendimento com o PSD, poder “inscrever no programa de Governo” uma posição contrária à despenalização da morte assistida (no PSD há liberdade de voto e Rui Rio é a favor).
Já sobre a regionalização, Rodrigues dos Santos ambiciona que um Governo de centro-direita possa fazer “uma descentralização séria”, mas sem a criação de regiões administrativas e afastando “um Estado maior com mais vícios”.
“No nosso caso nós entendemos que não devemos chegar sequer ao referendo. O povo já se pronunciou sobre essa matéria e de forma segura”, disse.
Desafiado a apontar diferenças com os seus novos concorrentes à direta, o líder do CDS-PP classificou a IL como “um partido que, tirando a economia, é exatamente igual à esquerda e defende exatamente a mesma agenda fraturante”.
“Eu devo até dizer que o voto na IL não é necessariamente um voto contra a esquerda, pelo contrário é um voto a favor da esquerda em muitas matérias: por exemplo, na eutanásia, na ideologia de género nas escolas, na regionalização, na questão da liberalização das drogas leves e na prostituição”, apontou.
Já quanto ao Chega, o líder do CDS-PP aponta-lhe “ideias estouvadas, que nenhum partido democrata-cristão pode alguma vez acompanhar”.
“Um partido que se funda na dignidade da pessoa humana e que segue a doutrina social da Igreja não pode nunca acreditar que seja possível castrar pessoas, perseguir etnias, atacar migrantes que fogem da guerra e da fome, aceitar penas de morte, tolerar prisões perpétuas”, afirmou, dizendo afastar-se até da versão “mitigada’ que provocou polémica no debate entre Rio e Ventura.
“Nós acreditamos sempre na redenção da pessoa, acreditamos que cada homem e mulher são maiores do que o seu erro e confiamos no sistema preventivo para nível penal de prevenção geral da sociedade”, reforçou.
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