“Vamos ter uma reunião no Ministério da Agricultura no dia 08 de fevereiro com a ministra [da Agricultura, Maria do Céu Antunes] e o secretário de Estado [da agricultura, Gonçalo Rodrigues]”, disse à agência Lusa João Calhau.

Com este agendamento, “por parte do chefe de gabinete da ministra” da Agricultura, os fruticultores decidiram “abandonar o acesso à A24, em Lamego” onde começaram a concentrar-se por volta das 12:00 de hoje.

“A PSP e a GNR desviarem o trânsito por vias alternativas, mas nós não íamos desmobilizar sem que tivéssemos alguma coisa de concreto, uma resposta e ela chegou após um contacto com o Ministério da Agricultura”, assegurou.

Neste sentido, por volta das 16:30, os fruticultores com cerca de 120 veículos agrícolas começaram a abandonar o acesso à A24, em Lamego, para regressarem aos concelhos de origem como Lamego, Moimenta da Beira, Armamar e Tarouca, no distrito de Viseu.

À reunião a Lisboa, adiantou, irão representantes dos “vários setores” frutícolas, assim como “dos vários concelhos” afetados pelos mesmos problemas.

O protesto de hoje em Lamego foi motivado pelos “graves problemas” do setor frutícola da região, como, por exemplo, da maçã e da vinha, disse à agência Lusa João Calhau.

Entre esses problemas, estão “os seguros das colheitas que além de não ser benéfico está atrasado sete meses”, em relação aos últimos prejuízos, em maio de 2023, causados pela geada e pelo granizo.

Os fruticultores também estão preocupados com “o sistema de proteção de colheitas contra as geadas e granizo” cujo aviso de candidaturas ao Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) “já devia ter saído há seis meses”.

“Para podermos investir na proteção de colheitas, com o antigeadas e antigranizo, para evitar os problemas dos últimos anos”, sublinhou, indicando que se está novamente “na altura da floração, uma fase crucial, e nada”, o que indica “problemas na próxima colheita”.

Outro problema “gravíssimo” do setor “é o preço da produção, ou seja, em cerca de três anos os custos duplicaram, quer os produtos fertilizantes, os fitofármacos, a eletricidade ou o gasóleo”.

“Tudo isto fez disparar o custo da produção e já não conseguimos. Um agricultor é um triste, não vive com dignidade”, lamentou.

A produção “aumentou o custo, mas não foi valorizada”, lembrou João Calhau, indicando que “há 20 anos o preço da maçã rondava os 25 cêntimos e hoje permanece, quando os custos de produção estão muito, mas muito mesmo, superiores”.

“É que nem sequer está em causa uma redução de lucro, é mesmo um problema de pagar a produção, ou seja, de ano para ano as nossas dívidas aumentam e a nossa dignidade diminui”, apontou.

Com os fruticultores, acrescentou, “estão os parceiros do leite que não conseguem ter uma vida constante, porque há uma alteração constante ao valor do leite”.

O Governo avançou com um pacote de ajuda de mais de 400 milhões de euros destinados a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), garantindo que a maior parte das medidas entra em vigor este mês, com exceção das que estão dependentes de 'luz verde' de Bruxelas.

A Comissão Europeia vai preparar uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos 27 Estados-membros a 26 de fevereiro.

Os protestos dos agricultores portugueses são organizados pelo Movimento Civil de Agricultores, que se juntou às manifestações que têm ocorrido em outros países europeus, incluindo França, Grécia, Itália, Bélgica, Alemanha e Espanha.