A evocação da data, intitulada “Fuga Rumo à Vitória”, começa pelas 15:00 com uma visita guiada aos pontos fulcrais da fuga na Fortaleza de Peniche.
Pelas 17:00, Jerónimo de Sousa, que em 2014 assistiu em Peniche à recriação da fuga por ocasião do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, participa agora na sessão solene evocativa dos 60 anos da fuga, no auditório do Edifício Cultural da Câmara de Peniche.
A fuga de Álvaro Cunhal e de mais nove companheiros é uma das 20 realizadas a partir do interior das prisões políticas do Estado Novo e constitui um dos episódios mais marcantes do combate à ditadura em Portugal.
A fuga “exigiu uma longa preparação e uma eficaz coordenação entre os presos e os seus apoios no exterior”, refere o catálogo da exposição “Por teu Livre Pensamento”, patente desde abril na Fortaleza de Peniche e que é uma antevisão do que virá a ser o futuro Museu da Resistência e da Liberdade.
A fuga obrigou à execução de um plano prévio por um grupo restrito de presos, que começou por estudar todas as hipóteses e sobretudo o trajeto entre as celas e a muralha.
Álvaro Cunhal e alguns companheiros vieram a concluir que a fuga só poderia ser bem sucedida com uma a saída direta das celas de alta segurança do terceiro piso do bloco C para o topo das muralhas e com a colaboração do militar da GNR, que ali no alto fazia sentinela.
O cabo José Alves acedeu a colaborar e a ser contactado no exterior por um dirigente do PCP, tendo a direção do Comité Central do partido sido envolvida nos planos.
A fuga veio a ser várias vezes adiada por mudanças inesperadas na escala de serviço do militar da GNR.
Nos preparativos, foi estudada a forma de prender o guarda prisional que fazia a vigilância às celas e produzir, a partir de mantas e lençóis, cordas sólidas para escalar as muralhas e apoiar a descida para o solo, já no exterior da prisão.
A 03 de janeiro, a fuga iniciou-se depois do jantar, com os presos Guilherme da Costa e Carlos Costa a imobilizar o guarda prisional e pô-lo a dormir com um lenço embebido em éter.
Os 10 fugitivos começaram a sair, um a um, debaixo do capote do GNR, que os levava até à muralha, donde vieram a descer para o exterior.
No largo da bola, esperavam-nos três automóveis, que os transportaram para longe.
Os fugitivos eram Álvaro Cunhal, na altura um dos mais destacados dirigentes do PCP que veio a ser eleito secretário-geral do partido um ano e três meses depois, Jaime Serra, outro dirigente do PCP, que liderava o “braço armado” do PCP durante a Guerra Colonial, que já tinha fugido antes das prisões de Peniche e de Caxias e tentou outra do Aljube e que veio a pertencer à Comissão Política e ser deputado do PCP após o 25 de abril de 1974.
A eles juntaram-se Joaquim Gomes, Carlos Costa, Francisco Miguel, Pedro Soares, Guilherme da Costa Carvalho, Rogério de Carvalho, José Carlos e Francisco Martins Rodrigues, dirigentes do PCP, alguns dos quais participaram nos preparativos ou noutras fugas e vieram a ser deputados após o 25 de abril de 1974.
A fuga de Álvaro Cunhal e dos seus companheiros, com repercussões nos principais órgãos de comunicação social a nível mundial, abalou o regime de Salazar, que ainda assim fez todos os esforços para capturar os fugitivos e aumentou a repressão e a segurança dentro das cadeias.
No entanto, provocou também a intensificação da luta contra a ditadura até culminar na revolução do 25 de Abril de 1974.
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