Na sequência do anúncio da demissão do diretor da CNB, Paulo Ribeiro, que alegou "falta de dinheiro e de vontade política", a Lusa contactou o principal mecenas da entidade.

"Ao longo dos últimos 20 anos, a Fundação EDP tem orgulho de ter investido mais de 11 milhões de euros na Companhia Nacional de Bailado", refere o comunicado enviado à Lusa sobre o corte mecenático feito à companhia.

Em 2017, o apoio mecenático da Fundação EDP foi de 300 mil euros, somados a um limite máximo de 75 mil euros para a digressão nacional, e esse valor global desceu para 100 mil euros em 2018.

"Para a cooperação mecenática, e tendo em conta o reforço muito significativo da sua atividade própria, a Fundação EDP definiu para o ano de 2018 um valor máximo de 100 mil euros por entidade, estando contempladas 15 organizações como são os casos da Fundação Serralves, a Casa da Música, o Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, a Arco Lisboa, a Companhia Nacional de Bailado, entre outras", justifica a Fundação EDP, no comunicado enviado à Lusa.

Na segunda-feira, o Ministério da Cultura divulgou um comunicado anunciando que Paulo Ribeiro se demitia por "decisão pessoal", sem precisar os motivos, e que será substituído por Sofia Campos, a 01 de setembro.

A Lusa tentou contactar, na altura, o diretor artístico e coreógrafo, que se escusou a prestar declarações.

Ao jornal Público, Paulo Ribeiro justificou: “Não podia decidir de outra maneira se queria respeitar o projeto que pensei para a companhia quando aceitei a direção”.

“Senti que estava sozinho. Falta dinheiro e falta vontade política para levar a CNB para a frente. Falta fazer dela uma prioridade", acrescentou.

Contactada pela agência Lusa sobre se os cortes no apoio mecenático à CNB poderão ser compensados no seu orçamento, proveniente do Ministério da Cultura, fonte da Secretaria de Estado da Cultura indicou que "esta matéria ainda será definida em sede de Orçamento do Estado".

No comunicado, a Fundação EDP sublinha ainda que apoia "ativamente a cultura, quer através de produção e capacidade expositiva próprias (exemplo disso o MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, e a Central Tejo), quer de mecenato".

Até 2019, a CNB ainda irá apresentar dois projetos de Paulo Ribeiro: "Lídia", uma coreografia da sua autoria, no México, em novembro de 2018, integrada na programação da Feira do Livro de Guadalajara, ficando ainda agendada uma nova criação sua, em coprodução com o Théâtre National de Chaillot, em Paris, para novembro de 2019, indicou o Organismo de Produção Artística (Opart), que tutela a CNB e o Teatro Nacional de São Carlos, no comunicado divulgado na segunda-feira.

A 27 de março deste ano numa manifestação de trabalhadores da CNB e do Teatro Nacional de São Carlos, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, André Albuquerque, do Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE), revelou à agência Lusa a existência de preocupações com a missão artística da CNB.

Na altura, o dirigente sindical disse que a situação na CNB era difícil, porque, como tinga chegado ao seu conhecimento, "o relacionamento entre os artistas e a direção artística" se tinha "degradado nos últimos tempos".

De acordo com André Albuquerque, os bailarinos defendiam que a CNB tinha de “dançar mais clássicos", preocupação que tinha sido transmitida pelo CENA/STE à tutela, que, por seu turno, dizia estar a acompanhar a situação.

Contactada pela agência Lusa, na altura, para uma reação da direção artística, da responsabilidade do coreógrafo Paulo Ribeiro, a esta situação, fonte da comunicação da CNB respondeu: “O diretor artístico não comenta”.

Paulo Ribeiro, 58 anos, nascido em Lisboa, é reconhecido como um dos destacados nomes da geração da Nova Dança Portuguesa, e fundou a companhia própria, em 1995, tendo sido o último diretor artístico do Ballet Gulbenkian, entre 2003 e 2005, antes da extinção daquela estrutura.

Quando foi convidado para a CNB, desempenhava as funções de diretor-geral e de programação do Teatro Viriato, em Viseu, que tinha assumido em 1998.

Começou por fazer carreira como bailarino em várias companhias belgas e francesas, e a estreia, enquanto coreógrafo, deu-se em 1984, em Paris, no âmbito da companhia Stridanse, da qual foi cofundador.

De regresso a Portugal, em 1988, começou por colaborar com a Companhia de Dança de Lisboa e com o Ballet Gulbenkian, também em Lisboa.

Sofia Campos, que exercia desde janeiro de 2015 as funções de vogal do conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II, irá assumir as funções na direção artística da CNB a partir de 01 de setembro, de acordo com a tutela.