O jornal britânico Sunday Times avança este domingo, 24 de março, que Theresa May "esteve à mercê de um golpe de gabinete ontem à noite", quando ministros seniores do seu governo encetaram movimentações para a afastar da liderança do executivo.
Segundo o jornal, numa série de telefonemas privados, estes concordaram May se tornou uma figura "errática" e que deve anunciar o seu afastamento da liderança. Os ministros pretendem confrontar a primeira-ministra na segunda-feira e, caso esta recusa afastar-se, vão ameaçar despedir-se.
Pelo menos 11 ministros, consultados pelo Sunday Times, confirmaram ao jornal que o seu desejo é que Theresa May dê lugar a outra pessoa.
Estas movimentações têm lugar depois de a União Europeia e o governo britânico terem acordado um adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia [Brexit] até 22 de maio — o "divórcio" estava marcado para 29 de março.
"O fim está próximo. Ela sai em dez dias", disse um ministro ao Sunday Times, que não foi identificado pela publicação.
Um segundo ministro acrescentou que "a sua capacidade de julgamento é errática. Não podes ser um membro do gabinete que simplesmente enfia a cabeça na areia".
Os nomes em cima da mesa para uma eventual substituição de Theresa May são David Lidington (vice-primeiro-ministro), Jeremy Hunt, com a pasta dos Negócios Estrangeiros ou Michael Gove, atualmente com a pasta do Ambiente.
Lidington é o mais provável, mas Gove, segundo o The Mail on Sunday, é o que reúne maior consenso entre os ministros que consideram David Lidington demasiado pró-europeu. No entanto, até o ministro do Ambiente é alvo de desconfiança entre eurocépticos.
O The Sunday Telegraph junta mais um nome à lista de possíveis substitutos: Nicky Morgan, ex-ministro da Educação, visto como um "candidato de união" e que apesar de ter votado a favor da permanência do Reino Unido na União Europeia, é popular entre nomes importantes que apoiam a saída do país do bloco europeu.
Ontem, um milhão de manifestantes anti-'Brexit' desfilaram em Londres, exigindo que o Governo realize um novo referendo sobre a saída da União Europeia, possibilidade que Theresa May tem vindo a descartar categoricamente.
A possível saída de Theresa May do Governo aumenta a incerteza relativamente ao Brexit, sofre a forma e o tempo em que este poderá ou não ocorrer.
Mudar de líder de governo não vai ajudar
A opinião é do ministro das Finanças, Philip Hammond, que assume que o Reino Unido precisa de encontrar uma forma ordeira de sair da União Europeia, mas considera que uma mudança na liderança do executivo nesta fase não vai ajudar.
Quando questionado hoje sobre se May estava a chegar ao fim da estrada, Hammond disse "Não. Penso que não é esse o caso, de todo". "Mudar de primeira-ministra não nos iria ajudar", acrescentou, dizendo que estar a falar e a considerar uma mudança de figuras no tabuleiro nesta altura é "auto-indulgente".
"Sou realista e admito que podemos não conseguir uma maioria [no parlamento] para o acordo da primeira-ministra [o acordo de saída negociado com a União Europeia]. Se for esse o caso, então o parlamento terá de decidir não apenas aquilo que é contra, mas aquilo que quer", disse.
Questionado sobre a possibilidade de um segundo referendo sobre a saída do país da União Europeia, Hammond assumiu que a proposta é coerente, mas que pode não reunir a aprovação da maioria dos deputados no parlamento.
"É claro que nos próximos dias haverá oportunidade para a Câmara dos Comuns [parlamento], caso não aprove o acordo negociado pela primeira-ministra [com a União Europeia], tentar encontrar uma maioria em torno de uma outra proposta que fazer consiga avançar".
Ativado pelo Governo britânico em 2017, o artigo 50.º do Tratado da União Europeia [procedimento que permite a um Estado-Membro retirar-se da UE] determina dois anos de negociação para a efetivação da saída, prazo que acaba a 29 de março deste ano e que está inscrito na legislação britânica.
No entanto, depois de ver o Acordo de Saída rejeitado por duas vezes no parlamento britânico, Theresa May pediu um adiamento do prazo à União Europeia. Os líderes europeus propuseram então adiar o 'Brexit' até 22 de maio — caso Londres aprove o Acordo de Saída, ou até 12 de abril, caso o texto seja novamente chumbado. A primeira-ministra britânica aceitou, apesar do seu pedido inicial apontar para 30 de junho como data limite.
Qualquer prorrogação para além de 22 de maio exigiria que o Reino Unido realizasse eleições para o Parlamento Europeu, que acontecem a 26 de maio, mas May considerou, desde o primeiro momento, esta possibilidade "inaceitável".
"Eu não acredito que tais eleições sejam do interesse de ninguém. A ideia de que, três anos depois de votar a saída da UE, o povo deste país deveria ser convidado a eleger um novo grupo de deputados europeus é, penso, inaceitável", disse a primeira-ministra durante um debate semanal com deputados na Câmara dos Comuns.
Na ocasião — e mais tarde em declarações ao país — May indicou que o Governo pretende submeter, de novo e pela terceira vez, ao parlamento o Acordo de Saída negociado com Bruxelas, cuja aprovação o bloco europeu exige para aceitar o adiamento.
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