João Gomes Cravinho prestava declarações à agência Lusa depois de ter participado esta sexta-feira na 4ª edição da Iniciativa Europeia de Intervenção – lançada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em 2018 — que decorreu em Estocolmo, na Suécia, e contou com a presença de vários ministros da Defesa europeus ou representantes.
“Houve uma grande preocupação em relação à possibilidade, que tem vindo a ser referida na comunicação e em outros lugares, de um acordo entre as autoridades malianas e um grupo mercenário, algo que mereceu a reprovação de todos e foi recebido como indicativo das grandes dificuldades que há em trabalhar no Sahel”, adiantou o governante.
Por outro lado, destacou, “ao mesmo tempo, há um compromisso generalizado à volta da mesa em relação ao combate ao terrorismo no Sahel” — local onde a União Europeia e as Nações Unidas têm empenhados vários militares, entre eles portugueses.
O ministro da Defesa português adiantou ainda que nesta reunião foi abordada a missão europeia em Moçambique – que deverá arrancar em outubro no terreno e atingir “velocidade de cruzeiro em dezembro” — mas também a situação no Afeganistão.
“Em relação ao Afeganistão, houve uma grande disponibilidade para aprender lições, sendo consensual que a forma de retirada foi indicativa de falta de diálogo e de concertação, e isso em si mesmo representa uma lição muito importante para outros quadros em que estamos presentes”, destacou.
Cravinho disse ainda que foi também abordada a questão da retirada de alguns cidadãos europeus, mas não de portugueses, que já estão todos fora do país, bem como de outros cidadãos afegãos que precisam de proteção, mas que “não está contemplada nenhuma intervenção militar”.
“Há uma disponibilidade para concertação a nível da Defesa com outros países, mas sem a ideia de envolvermos forças militares para extrair os afegãos em causa. Este é o tempo da diplomacia e do diálogo discreto para atingir os nossos objetivos”, vincou.
O governante português disse que também foi discutido o recente exercício militar que envolve a Rússia e a Bielorrússia, Zapad-2021.
“Verificou-se que, no fundo, a forma como o exercício foi desenvolvido corresponde ao oposto de um mecanismo de criação de confiança. Isto é: falta de convites para observadores internacionais, comunicação possivelmente enganosa sobre os contornos e o conteúdo, utilização de território e forças da Bielorrússia de forma integrada com as forças russas”, apontou.
“Portanto digamos que não contribuiu, pelo contrário, a baixar tensões nas regiões fronteiriças da Rússia”, sublinhou.
Quanto aos objetivos desta iniciativa no âmbito da Defesa, João Gomes Cravinho destacou avanços “no desenvolvimento de uma cultura estratégica comum entre os 13 países” que a compõem e que “abre boas perspetivas para o futuro”.
A Iniciativa Europeia de Intervenção foi criada em 2018 por proposta do presidente francês, Emmanuel Macron e dela fazem parte 13 países: Portugal, Suécia, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Noruega, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Reino Unido e Estónia.
Esta iniciativa é uma “plataforma independente que junta vários países europeus na antecipação e preparação de crises futuras, numa lógica de cultura estratégica partilhada”, adianta o Ministério da Defesa português, e que pretende ter um trabalho complementar ao desenvolvido pela União Europeia, NATO, ONU ou Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
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