“É um erro pensar que a cooperação entre Portugal e os Estados Unidos da América se reduz à questão das Lajes e é um erro que se paga caro”, declarou Augusto Santos Silva, durante uma audição na comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, pedida pelo PSD, sobre as conclusões da última reunião da comissão bilateral permanente, realizada em maio.
Santos Silva recordou encontros que manteve em junho, em Washington, com o seu homólogo norte-americano, Mike Pompeo, e com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, John Bolton, e entre os Presidentes português, Marcelo Rebelo de Sousa, e norte-americano, Donald Trump.
“Há uma consciência clara, por parte dos norte-americanos, da importância estratégica, em questões de natureza militar, de segurança marítima e de segurança energética, dos Açores e, em particular, da ilha Terceira”, disse.
Recordando que neste momento 30% da importação europeia de gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos entra na Europa via porto de Sines.
“Os EUA pensam com cuidado e ponderação a utilidade de usarem a ilha Terceira e as instalações logísticas do município da Praia da Vitória em matéria portuária para darem mais corpo e mais robustez ao fluxo de exportação de GNL para a Europa através de Portugal”, referiu, apontando que este é um dado “muito importante do ponto de vista económico, mas também a nível da segurança energética”, permitindo reduzir a dependência europeia do gás russo.
Além disso, sustentou, “é claro que o projeto do centro de defesa do Atlântico é de interesse estratégico para os EUA, assim como o é ter relacionamento bilateral com Portugal em consultas políticas regulares sobre África e América Latina”.
“É absolutamente essencial para os EUA perceberem que a posição portuguesa é a posição de país europeu e atlântico”, disse, acrescentando: “Após o ‘Brexit’ seremos um interlocutor naturalmente essencial dos Estados Unidos na sua relação com a Europa”.
Isto, sublinhou, “não deve ser ofuscado por questões que hoje não existem”, dirigindo-se ao deputado social-democrata António Ventura, que comentou: “Questões que não existem? Gostei dessa”.
Na sua intervenção, o deputado do PSD questionara essencialmente o ministro sobre os compromissos norte-americanos sobre a descontaminação ambiental da base das Lajes.
“Não se encontram medidas que tenham princípio e fim sobre a descontaminação. Fala-se muito em planeamento e não em atitude concreta”, comentou António Ventura.
O ministro respondeu que “se há coisa que caracteriza o último semestre foi terem sido feitas coisas práticas” com esse objetivo.
A deputada do Bloco de Esquerda Maria Manuel Rola questionou Santos Silva sobre a importação de GNL através de Portugal, quando o Governo “tem um compromisso com a neutralidade carbónica”.
“Conhecendo a trajetória de Trump relativamente às questões de segurança, das migrações, das alterações climáticas, de que forma estamos a prever estas ações bilaterais?”, perguntou.
Na resposta, o ministro defendeu que a importação de GNL “é útil para Portugal”, mas isso não significa que o país "esteja a validar essa fonte".
Santos Silva recordou que o país importa petróleo da Rússia, da Nigéria ou de Angola, e gás da Argélia.
“Nunca circunscrevemos as importações dos nossos bens energéticos à natureza democrática dos regimes. Se a senhora deputada quer fazer isso, escreva isso no seu programa eleitoral. (…) Há uma pequena diferença entre a Rússia e os EUA: é que os EUA são um país democrático”, comentou.
Por outro lado, sublinhou, é Portugal que está a levar para os Estados Unidos “a orientação energética correta, porque a EDP é a principal operadora nos EUA em matéria de energia renovável”.
Portugal, referiu, “tem o porto de águas profundas da Europa mais perto da costa leste dos EUA e do canal do Panamá e deve usar esse instrumento”.
Santos Silva comentou ainda que o comércio bilateral aumentou 8%, com Portugal com um ‘superavit’ bastante grande, “como Donald Trump fez questão de recordar” no encontro com Marcelo Rebelo de Sousa.
“A nossa resposta foi sim. Invistamos mais”, mencionou.
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