“O momento é muito grave. O momento que se vive na Venezuela é muito, muito grave, e os portugueses estão conscientes da gravidade do momento que estão a passar”, disse José Luis Carneiro em Caracas.

O governante falava à agência Lusa no âmbito de uma visita de quatro dias à Venezuela, que começou na terça-feira, durante a qual se reuniu com portugueses, empresários, dirigentes associativos, nas cidades venezuelanas de Maracay e Valência.

“O mais surpreendente de tudo aquilo que encontrei é uma vontade muito grande de vencerem estas dificuldades e poder ver, testemunhar, ‘in-loco’ portugueses que foram vítimas de assaltos, de assaltos que destruíram o seu património, que destruíram os seus estabelecimentos e já se encontram a tentar recuperar esses estabelecimentos, já se encontram de novo a abrir as portas e a afirmarem que querem fazer da Venezuela o seu país de futuro”, disse.

Por outro lado explicou que “naturalmente que as novas gerações, as gerações da segunda e terceira geração e nomeadamente os seus pais vivem angustiados com o seu futuro e começam a perspetivar e a verificar como é que poderão encontrar saídas para esses seus filhos”.

“E, procuram também saber como é que podem aceder ao ensino superior em Portugal e como é que Portugal poderá acolher alguns desses portugueses, no futuro”, disse.

O Secretário de Estado das Comunidades transmitiu “a todos, por um lado uma mensagem de proximidade, de querer estar com eles [portugueses] nos momentos mais difíceis que estão a passar e ao mesmo tempo também os braços abertos de Portugal para os receber se essa for a sua decisão”.

“Mas a grande maioria, mais de 90% das pessoas com quem falei mostraram a vontade de recuperarem os seus estabelecimentos, de investir na Venezuela, por sentirem que pese embora este momento profundamente grave por que estão a passar a Venezuela ser um país com muitas oportunidades de investimento e muitas oportunidades em relação ao futuro”, disse.

As manifestações a favor e contra o Presidente Nicolás Maduro intensificaram-se desde 1 de abril passado naquele país da América do Sul, depois de o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) divulgar duas sentenças que limitavam a imunidade parlamentar e em que este organismo assumia as funções do parlamento.

Entre queixas sobre o aumento da repressão, os opositores manifestam-se ainda contra a convocatória para uma Assembleia Constituinte, feita a 1 de maio pelo Nicolás Maduro.

Dados oficiais dão conta de que pelo menos 56 pessoas já morreram desde abril, em vários confrontos entre as forças do regime e os oposicionistas a Maduro.

Pelo menos 89 feridos após protesto em Caracas

Pelo menos 89 pessoas ficaram feridas na quarta-feira devido à violência que se gerou num protesto contra o governo em Caracas, informaram as autoridades venezuelanas, dirigentes da oposição e centros de saúde.

Os centros de assistência do município de Baruta (estado de Miranda, distrito metropolitano de Caracas) atenderam pelo menos 50 feridos na quarta-feira, informou o serviço de saúde da localidade através da rede social Instagram.

O organismo denunciou que efetivos das forças de segurança que atuavam para conter o protesto lançaram bombas de gás lacrimogéneo muito perto de um dos seus postos médicos, onde assistiam feridos.

O "Salud Baruta" afirmou que crianças, transeuntes e pessoas que se encontravam no seu local de trabalho foram afetadas pelo gás. "É inaceitável e desumano", disse o organismo.

O presidente do município de Chacao (estado de Miranda, distrito metropolitano de Caracas), o opositor Ramón Muchacho, indicou que 39 pessoas que sofreram ferimentos na manifestação foram socorridas por pessoal médico.

O autarca explicou que do total, 18 pessoas apresentaram traumatismos, 16 sofreram ferimentos causados por munições, dois sofreram asfixia, dois registaram problemas de tensão e um foi ferido por um berlinde. Todos estão "fora de perigo".

O deputado Tomás Guanipa declarou em conferência de imprensa, em nome da coligação da oposição Mesa de Unidade Democrática (MUD), que "mais de 80 pessoas ficaram feridas apenas em Caracas".

Guanipa considerou que na quarta-feira as forças de segurança levaram a cabo uma "repressão maior que noutras oportunidades" contra os manifestantes.

Os municípios de Baruta e Chacao são diariamente palco de protestos contra o governo, que desde o passado dia 1 de abril já causaram 59 mortos e um milhar de feridos, segundo números do Ministério Público.