"Um grave ataque terrorista ocorreu a 22 de fevereiro, quando um grupo armado assaltou a embaixada da RPDC [República Popular Democrática da Coreia] em Espanha", disse o porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte num comunicado.

Segundo a Bloomberg, depois de pedir às autoridades espanholas para trazer "os terroristas e aqueles que os controlam" à justiça, o porta-voz admitiu que o seu regime está a investigar as potenciais ligações do ataque ao governo norte-americano.

"Estamos a seguir os rumores de todos os sinais no ar de que o FBI dos Estados Unidos e a arraia-miúda do corpo anti-RPDC possam ter estado envolvidos no incidente de terror", disse o funcionário.

O comunicado, de acordo com a BBC, foi emitido depois de um grupo dissidente, denominado Defesa Civil de Cheollima, ter reivindicado o ataque. O grupo levou vários computadores da embaixada e disse ter entregado ficheiros dos mesmos ao FBI.

As suspeitas do regime norte-coreano quanto ao envolvimento norte-americano no ataque surgem também na senda de uma investigação do "El País", que apontou para um possível envolvimento da CIA, outra agência dos EUA. Segundo o diário, as autoridades espanholas pediram explicações à agência, mas a resposta "foi negativa" e "pouco convincente", tendo o jornal sugerido que os serviços de Inteligência americanos terão agido "em provável cooperação" com os agentes da Coreia do Sul. Os EUA, no entanto, já negaram responsabilidades.

No rescaldo do ataque, o único elemento que tinha sido confirmado pelo governo espanhol e pela polícia é que, nesse dia, foi atendida uma norte-coreana levemente ferida na via pública perto da embaixada. O ataque ocorreu dias depois do encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e Kim Jong-un em Hanói, no Vietname.

Contudo, já estão disponíveis mais detalhes quanto ao ataque. Segundo a BBC, as autoridades espanholas apuraram que um homem chamado Adrian Hong Chang obteve acesso à embaixada quando pediu para ver o adido comercial, justificando que já se tinha encontrado com ele previamente para discutir negócios.

Ao conseguir entrar, os seus acompanhantes seguiram-no, irrompendo pelas instalações. Dois deles terão sido identificados enquanto Woo Ran Lee, sul-coreano, e Sam Rye, de nacionalidade norte-americano".

O grupo terá interrogado o adido e tentado persuadi-lo a desertar, deixando-o amarrado na cave do prédio quando este se recusou. O staff da embaixada terá sido mantido refém durante várias horas, tendo uma mulher conseguido fugir, saltando pela janela e gritando por ajuda.

Os pedidos foram acudidos por transeuntes que chamaram a polícia. Os agentes, ao chegarem ao local, depararam- se com Hong Chang, vestido de diplomata da Coreia do Norte, que lhes disse que estava tudo bem. Os responsáveis pelo assalto mais tarde fugiram em três veículos da embaixada, separando-se em quatro grupos que se dirigiram para Portugal.

Segundo a emissora britânica, Hong Chang tem nacionalidade mexicana e vive nos EUA, tendo contactado o FBI para dar a sua versão dos factos. Pelo menos dois mandados de captura internacional já terão sido emitidos.

No entanto, nesta quarta-feira, 27 de março, o grupo Defesa Civil de Cheollima, também conhecido como Free Joseon, reivindicou o ataque, dizendo que executou a operação, sem violência e sem armas, para acabar com as atividades ilegais das representações diplomáticas norte-coreanas.

A célula negou ter atuado com violência, segundo um comunicado publicado na internet, dizendo terem sido convidados para entrar na embaixada e que, não só "ninguém foi amordaçado ou agredido", como, "por respeito à nação anfitriã, Espanha, não foram usadas armas" e "todos os ocupantes da embaixada foram tratados com dignidade", completou.

O comunicado menciona ainda que "a organização compartilhou algumas informações de grande valor potencial com o FBI nos Estados Unidos, sob termos mutuamente acordados de confidencialidade".

O grupo, que oferece assistência às pessoas que tentam desertar da Coreia do Norte e conspira para derrubar Kim-Jong-un, tornou-se conhecido em 2017 quando tomou a responsabilidade por ter retirado Kim Han-sol, sobrinho do líder norte-coreano, depois do assassinato do seu pai, alegando estar a garantir a sua segurança. Kim Jong-nam, meio irmão de Kim-Jong-un, foi morto num aeroporto na Malásia.