"Numa altura em que os estaleiros têm todas as condições e capitais próprios para se desenvolverem, o Arsenal do Alfeite está a ser completamente estrangulado pela falta de autorizações do Governo para utilizar dinheiro que é seu, sendo que o problema mais premente começa a ser, ou já é, a extensão em comprimento da doca seca", disse à agência Lusa o coordenador do sindicato, Alexandre Plácido.

"A ampliação da doca seca permitirá ao Arsenal do Alfeite acolher em simultâneo um submarino e um navio de superfície. De outra forma, o que vai acontecer já em 2018, é que entra o submarino Arpão para manutenção e não entra mais nenhum navio da Marinha, ou então lá irá o submarino Arpão para a Alemanha - onde está agora o Tridente [em manutenção] -, com custos exorbitantes para o erário público", justificou.

O dirigente sindical, que falava à agência Lusa durante uma concentração de trabalhadores que aderiram à greve da Função Pública, que, de acordo com o sindicato, regista uma "adesão de cerca de 80%" nos estaleiros do Arsenal do Alfeite, em Almada, distrito de Setúbal, responsabilizou também o Governo pelo adiamento da entrada para reparação do navio hidrográfico Almirante Gago Coutinho, que estava prevista para o passado dia 20 de outubro.

"A Marinha receia que a entrada deste navio atrase ainda mais a manutenção dos `patrulhas´ Mondego e Guadiana, que considera prioritários. Este receio da falta de capacidade do Arsenal, por parte da Marinha, resulta dos constrangimentos que o Arsenal está a enfrentar, em termos de vistos do Tribunal de Contas e autorizações governamentais", disse Alexandre Plácido.

O dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Civis das Forças Armadas, Estabelecimentos Fabris e Empresas de Defesa afirmou ainda que a Marinha Portuguesa "também está preocupada com o atraso na construção das novas lanchas para a Autoridade Marítima Nacional, que se deve, em boa parte ou no seu todo, ao facto de ainda não haver autorização, por parte do Governo, para que o Arsenal adquira os motores para estas lanchas".

"Vamos continuar a exercer pressão para que esta situação seja desbloqueada", referiu.

"Há tempo para não termos o país a perder com uma situação que já está a causar alguns atritos entre a Marinha e o Arsenal - e a Marinha é o cliente primordial do Arsenal -, como se percebe pela decisão da Marinha de adiar a entrada para manutenção do navio Almirante Gago Coutinho, por ter receio de que isso comprometa outros trabalhos em curso. Se não houvesse receio da Marinha em relação à capacidade da Marinha, o navio Almirante Gago Coutinho tinha entrado no Arsenal do Alfeite para manutenção na data prevista", disse.

Neste sentido, os trabalhadores querem ver a situação resolvida rapidamente e admitem a possibilidade de avançarem com eventuais formas de luta muito em breve, se, entretanto, o Governo não desbloquear a situação no Arsenal do Alfeite.

Para além de reivindicarem uma solução para os problemas do Arsenal do Alfeite, os trabalhadores dos estaleiros também exigem resposta para as questões que levaram à marcação da greve da Função Pública de hoje.

Em causa na greve nacional está a falta de respostas às reivindicações da Frente Comum, como o aumento dos salários na função pública, o descongelamento "imediato" das progressões na carreira e as 35 horas semanais para todos os trabalhadores.

Esta é a terceira greve nacional dos trabalhadores da Administração Pública com o atual Governo e a primeira convocada pela Frente Comum de Sindicatos, segundo a listagem cedida pela estrutura sindical.

A primeira greve com o executivo de António Costa ocorreu em 29 de janeiro de 2016 e foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública, assim como a de 26 de maio deste ano, que teve como objetivo reivindicar aumentos salariais, o descongelamento das carreiras, o pagamento de horas extraordinárias e a redução do horário de trabalho para 35 horas em todos os serviços do Estado.