Contactado pela agência Lusa, João Proença, da FNAM, apelou à participação na concentração de hoje à tarde, sublinhando que “ou a política de saúde muda ou acabam os serviços de saúde públicos”.
Questionado sobre a adesão geral à greve dos médicos, que hoje cumpre o segundo dia, João Proença admitiu que possa ser idêntica à de terça-feira, sublinhando que “o importante é que todos percebam que ou a política de saúde muda ou estamos em risco”.
“Com a falta de neonatologistas, anestesistas e obstetras estamos em risco. Não se pense que vai haver maternidades em Lisboa, porto e Coimbra a funcionar normalmente no verão”, afirmou.
O responsável deu ainda o exemplo do Hospital de Portimão: “É uma empresa de Sevilha que assegura técnicos, enfermeiros e médicos”.
João Proença frisou que política de saúde e a gestão empresarial tem sido desastrosa para os serviços públicos e afirmou: “É uma degradação acelerada. Nós estamos a ficar velhos, a população está a envelhecer, e não há quem nos substitua porque os jovens são impedidos de terem uma formação qualificada. É uma situação desastrosa”.
“Temos jovens para qualificar e não lhes dão a oportunidade de fazer”, sublinhou, defendendo que a situação dos serviços públicos “é mais grave do que se pensa”.
Os dois sindicatos médicos convocaram uma greve nacional para terça-feira e hoje, sendo o primeiro dia agendado pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e o segundo marcado pela FNAM, que também promove hoje à tarde uma manifestação junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa.
Num balanço feito à Lusa no final do primeiro dia de greve dos médicos, o SIM indicou uma adesão geral de 80%, de 85% nos blocos operatórios, com alguns registos de 100%, de 75% nas consultas externas e de 80% nos centros de saúde, igualmente com casos de participação total.
Contactado pela Lusa, João Proença insiste que a situação nos serviços públicos “é mais grave do que se pensa” e afirmou que, dos 1.800 obstetras em território nacional apenas 800 trabalham nos serviços públicos e que, do total, 45% tem mais de 70 anos.
“Os privados não asseguram serviços como a Neonatologia, só asseguram lucros. Tudo o que tem que ver com a Oncologia e Infeciologia [os privados] não querem”, afirmou João Proença, exemplificando com o Hospital da Luz (Lisboa), “que já fechou a Pediatria à noite”.
“Para ter gente qualificada a trabalhar é muito difícil. É preciso formar gente e contratar sempre (…). Podem dizer que vão abrir 200 vagas, mas daqui a uns anos não resolvem o problema. Os médicos reformam-se e os que ficam acima dos 55 anos deixam de fazer banco. Não consigo entender… têm de se responsabilizar pela desgraça que estão a criar”, insistiu.
À greve dos médicos, que termina às 24.00 de hoje, juntou-se na terça-feira a dos enfermeiros, que paralisam até ao final do dia de sexta-feira, num protesto convocado pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).
Cada uma das classes profissionais tem reivindicações específicas, mas tanto médicos como enfermeiros argumentam que lutam pela dignidade da profissão e por um melhor Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Os médicos querem que todos os portugueses tenham médico de família, lutam pela redução das listas de utentes dos médicos e por mais tempo de consultas, querem a diminuição do serviço em urgência das 18 para as 12 horas, entre várias outras reivindicações, que passam também por reclamar que possam optar pela dedicação exclusiva ao serviço público.
No pré-aviso de greve, os médicos pedem ainda que seja negociada uma nova grelha salarial, que indicam que já devia ter ocorrido em janeiro de 2015.
Estão decretados serviços mínimos, como sempre nas greves no setor da saúde, que incluem todos os serviços de urgência, cuidados intensivos e outros, como quimioterapia e algumas cirurgias.
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