“SNS a colapsar, é preciso reanimar”, foi uma das frases gritadas pelos médicos durante a concentração, com muitos dos profissionais a envergarem batas brancas, numa manifestação que foi convocada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM) para coincidir com o segundo dia de greve nacional dos clínicos.
Entre os representantes da geração mais jovem de médicos esteve Constança Carvalho, da Associação de Médicos Pela Formação Especializada, que defende que “o principal problema” do Serviço Nacional de Saúde é a falta de especialistas.
“Faltam especialistas no SNS e há cada vez mais jovens médicos que não conseguem concluir a sua formação para completar os quadros do SNS. É necessária a contratação de mais especialistas para aumentar capacidades formativas, mas não só. É preciso uma solução que permita integrar os médicos que têm ficado de fora, sem acesso a formação específica”, afirmou a jovem médica à agência Lusa, enquanto participava na concentração que juntou algumas dezenas de profissionais junto ao Ministério, em Lisboa.
Aliás, esta associação estima que este ano mais de mil médicos fiquem sem acesso a formação médica especializada, o que pode levar a que em 2021 haja mais de 4.000 médicos sem especialidade.
O problema da falta de especialistas é central também no entender da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que destaca que faltam clínicos no SNS e que é preciso uma carreira adequada e novas grelhas salariais para fixar os médicos no setor público.
João Proença, dirigente da FNAM, admite já não ter grandes expectativas quanto a soluções propostas pelo atual Governo, recordando que o final da legislatura está a aproximar-se.
A esse propósito, apelou aos partidos políticos para que clarifiquem nos seus programas de Governo “o que querem dos serviços de saúde”.
Em declarações à agência Lusa no início da concentração de médicos, João Proença classificou o estado do setor como “um problema de regime”, que tem que ter respostas claras que passem pelo planeamento de recursos humanos, pela melhoria de condições de trabalho e das grelhas salariais dos médicos e pela contratação de mais pessoas.
O líder da CGTP esteve também presente na concentração dos médicos, manifestando “solidariedade com a luta” dos profissionais.
“Além da defesa dos seus direitos e da melhoria das condições de trabalho, é uma greve e uma concentração que tem a ver com a defesa e melhoria do SNS”, disse Arménio Carlos aos jornalistas.
O dirigente da CGTP afirmou ainda que “não basta o Governo dizer que defende o SNS”, quando “privilegia o desvio de dinheiro do orçamento do estado para o setor financeiro privado” ao mesmo tempo que indica não ter mais dinheiro para a saúde.
“Não se percebe que o Governo diga que não há condições para responder [às reivindicações] dos profissionais de Saúde e ao mesmo tempo continuar a abrir os cordões à bolsa para despesas supérfluas”, insistiu.
Quanto ao aumento de profissionais de saúde que tem sido apresentado pelo Executivo, Arménio Carlos lembra que a base de comparação é “o período da ‘troika’”, onde se deu uma “redução brutal de profissionais de saúde”.
“Se não fosse a intervenção responsável dos médicos, os serviços de saúde tinham pura e simplesmente colapsado. O aumento de profissionais está muito longe das necessidades que se verificam”, declarou, instando o Ministério das Finanças a parar de se “sobrepor a tudo e a todos para apresentar resultados na Europa”.
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