“Há uma parte da Igreja que realmente não conseguiu perceber que é impossível eliminar completamente a desigualdade humana, que ela existe e vinda da própria natureza”, disse Luciano Guerra à Lusa, no contexto de uma reportagem, em Fátima, sobre os 30 anos da queda do Muro de Berlim, que mudou o mapa político da Europa e o curso da história mundial, abrindo caminho ao desmoronamento da União Soviética e demais regimes comunistas do Leste.

O problema, na sua opinião, “é que o marxismo fomentou o ódio, ao passo que a Teologia da Libertação não fomenta o ódio para com o rico”.

Nascida na sequência do Concílio Vaticano II (1962-1965) e da Conferência de Medellín (1968), esta corrente cristã expressa “toda uma generosidade” da Igreja Católica da América Latina para com os mais desfavorecidos.

“Na América Latina, toda aquela cisão doutrinal que houve mesmo entre católicos – e há – tem uma base de análise marxista, a meu ver”, refere Luciano Guerra.

Ao longo do século XX, recorda o antigo reitor de Fátima, “desapareceu o sentido do equilíbrio humano e o totalitarismo ideológico acabou, realmente, por invadir a própria Igreja na pressa de fazer bem”.

“A China ainda hoje se diz comunista”, enfatiza, mencionando outros estados da Ásia oriental que têm regimes idênticos, como o Vietname e a Coreia do Norte.

O comunismo constituiu “um movimento verdadeiramente universal e vivo, não há dúvida nenhuma”, mas que “avassalou sob o ponto de vista ideológico toda uma parte da Humanidade”, que acabou por “reconhecer que de facto estava errada”.

Para Luciano Guerra, o colapso da União Soviética e seus aliados da Europa oriental, após a queda do Muro de Berlim, “é um aviso muito sério para as futuras gerações”, segundo Luciano Guerra.

“Não sei até que ponto é que o ateísmo não vai encontrar ainda na África um tempo de cultivo com base no marxismo”, admite o clérigo.

"[Na Teologia da Libertação] há toda uma generosidade e não creio que haja ódio. Mas daí vem uma natural adversidade política”, ressalva.

“O ódio é um sentimento que invade a pessoa e acaba por ser um princípio da ação e isso é destrutivo”, na sua ótica.

O peruano Gustavo Gutiérrez é considerado um dos fundadores deste movimento teológico, que integra os brasileiros Leonardo Boff e Frei Beto, além de Jon Sobrino (El Salvador), Leonidas Proaño (Equador) e Juan Luis Segundo (Uruguai), entre outros.

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