A sentença foi lida esta quarta-feira após mais de dois meses de julgamento e acabou numa dupla condenação, conta o The New York Times. Weinstein terá a partir de agora no cadastro a ofensa de abusador sexual. "É o culminar da colossal queda de um homem que foi uma das figuras mais influentes e poderosas de Hollywood", escreveu mesmo a revista Variety.
O limite máximo da pena era de 29 anos de prisão pelos dois crimes (25 por violação e quatro anos por sexo oral forçado) e o mínimo de cinco anos, tendo em conta a dupla condenação. Weinstein, presente e de cadeira de rodas, tinha insistido até hoje na sua inocência, alegando que todos os atos foram consentidos. Todavia, esta quarta-feira admitiu estar "totalmente confuso" e com um "profundo remorso".
Sobre estas palavras, a Variety relata que o produtor mostrou contrição e foi incoerente. Num discurso que a revista considera ter sido desmedido, o ex-produtor retratou-se diante o movimento #MeToo, afirmando que tinha ido longe demais, mas ao mesmo tempo dava o exemplo do seu trabalho de caridade. Porém, revelaria que se sentia confuso.
"Estou totalmente confuso", disse. "Acho que os homens estão confusos sobre tudo isto... este sentimento de milhares de homens e mulheres que estão perder devido ao processo, estou preocupado com este país. Esta não é a atmosfera certa para os Estados Unidos da América", completou.
Das cinco acusações de crimes sexuais que recaíam sobre Harvey Weinstein, o júri revelou a 24 de fevereiro que o considerava culpado de dois crimes sexuais ocorridos em 2006 e 2013 com duas mulheres: ato sexual criminoso em primeiro grau e violação em terceiro grau. Hoje, Weinstein revelou que partilhou uma "amizade séria" com duas das vítimas.
Miriam Haley e Jessica Mann, que antes do juiz ler a sentença, prestaram declarações em tribunal e recordaram os crimes e as sequelas psicológicas daí resultantes. Haley informou o juiz que ficou "devastada" após o seu encontro com Harvey. "Assustou-me profundamente a nível mental e emocional. O que ele fez não só me retirou a dignidade como ser humano e mulher, mas devastou a minha confiança". Mann acrescentou que não conseguia "explicar os horrores de ser violada por alguém que tem poder".
Depois de ambas falarem, Weinstein fito-as e pareceu estar num autêntico estado de descrença, segundo a revista. No entanto, acabaria por pedir desculpas às duas vítimas.
Os procuradores tinham pedido a "pena máxima" de 29 anos. Já Donna Rotunno, a sua advogada, indicou que não concordou com a caracterização do seu cliente enquanto antigo "mongol" e uma figura "Toda Poderosa" por parte das vítimas, retorquindo que a sua saúde e o facto de ser uma celebridade, prejudicaram a sua defesa.
No decorrer deste processo judicial, em janeiro, as autoridades de Los Angeles (Califórnia) revelaram a existência de outras acusações de crimes sexuais, nomeadamente violação, ocorridos em fevereiro de 2013, com duas outras mulheres.
Segundo a Associated Press, não foram adiantadas quaisquer informações sobre estes casos, mas os crimes indicados implicam uma pena de prisão superior a 28 anos.
O início do fim
A detenção de Harvey Weinstein aconteceu em maio de 2018, meses depois de o jornal The New York Times e de a revista The New Yorker terem publicado, em outubro de 2017, reportagens a denunciar o escândalo sexual no meio cinematográfico norte-americano.
Foi a partir dessas reportagens que se gerou o movimento coletivo espontâneo de denúncia e partilha #MeToo, de denúncia de casos de abuso, agressão e assédio sexual na indústria do entretenimento.
Entre as mulheres que detalharam casos de propostas sexuais de Harvey Weinstein estão Uma Thurman, Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Salma Hayek e Lupita N'yongo.
Em dezembro de 2017, as mulheres que denunciaram casos de assédio e abuso sexual, contra Harvey Weinstein e outras pessoas, foram nomeadas "Personalidade do Ano" pela revista norte-americana Time.
O caso mais mediático envolveu o produtor norte-americano Harvey Weinstein, mas surgiram ainda outros relatos de abusos envolvendo, entre outros, os atores Kevin Spacey e Dustin Hoffman, o ex-presidente da Amazon Studios Roy Price, os realizadores Brett Ratner e James Toback, os jornalistas Charlie Rose, Glenn Thrush e Matt Lauer, o fotógrafo Terry Richardson e o comediante norte-americano Louis C.K..
* Com agências
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