“Não há nenhum motivo válido, perdi o discernimento, agora sinto-me culpado, revoltado e envergonhado e, por isso, quero ser condenado”, disse hoje o arguido, perante o tribunal de júri (constituído por um coletivo de juízes e quatro jurados).
Além disso, o suspeito de 48 anos, em prisão preventiva – medida de coação mais gravosa - referiu que quer renunciar à herança e “quer muito” voltar a falar com os pais, com quem não tem contacto desde que foi detido, para “pedir desculpa”.
Segundo a acusação, a que a Lusa teve acesso, o homem encomendou a morte dos pais, em novembro de 2016, com o objetivo de ficar com a herança, tendo entregado ao outro suspeito (igualmente preso), como adiantamento, um cheque e dinheiro que este transferiu para a namorada, e cúmplice, também arguida no processo.
“A morte das vítimas apenas não se concretizou por mero acaso, alheio à vontade dos suspeitos”, acrescentou.
Os crimes “foram de uma inusitada e despropositada violência, condizente com os objetivos previamente traçados”, que visavam matar as vítimas e “realizar um roubo para dissimulação dos homicídios”, sustentou.
Durante o seu depoimento, que durou toda a manhã, o suspeito referiu que os pais não aceitavam o seu atual relacionamento amoroso, não concordavam com a venda que ele fez de um armazém e que tinham tido, há pouco tempo, desentendimentos com o seu filho. A soma destas situações, relatou, “saturaram-no” ao ponto de encomendar a morte dos pais.
“Estes desentendimentos levaram-nos a tirar-me tudo, proibiram-me de ir lá a casa e ver a minha avó, que vivia com eles”, ressalvou.
Contrariando a acusação, o arguido garantiu que o crime nada teve a ver com a herança que era “pequena”, mas com “más opções de vida” que foi tendo e que geravam discussões e conflitos com os progenitores.
Por isso, confirmou, encomendou a morte a um amigo do filho, não tendo traçado qualquer tipo de plano, pedindo-lhe apenas que fosse “rápido e sem grande sofrimento”, entregando-lhe para isso as chaves de casa e explicando-lhe as rotinas dos pais.
Referindo que o “serviço” seria feito a troco de dinheiro, o suspeito frisou não ter pedido ao executante que simulasse nenhum assalto ou trouxesse objetos em ouro, mas que os matasse apenas.
O alegado executante do crime, de 23 anos, ouvido durante toda a tarde, revelou que nunca teve intenção de matar ninguém, mas apenas de extorquir dinheiro.
“Ele pediu-me para matar os pais com um tiro e para tirar o fio de ouro que o pai trazia ao pescoço e trazer um cofre que continha relógios”, garantiu.
O suspeito diz ter assaltado a casa para “convencer” o outro arguido e que, a arma que levou, serviu apenas para assustar, tendo agredido o casal com coronhadas porque foi agredidido.
O arguido contou ainda que depositou o dinheiro que recebeu na conta da namorada para não levantar suspeitas, tendo-lhe contado o sucedido apenas após ter cometido o crime.
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