“Ainda não está agendada nenhuma revisão do regulamento da CT [Comissão de Toponímia], nem sei quando e se será” feita, afirmou hoje, em resposta à agência Lusa, a presidente da Comissão de Toponímia do Porto.
A atribuição do nome de Gisberta Salce Júnior a uma rua da cidade gerou em março divergências no entendimento dos critérios ditados pelo regulamento da Comissão de Toponímia, órgão consultivo da Câmara Municipal do Porto para as questões de toponímia da cidade.
Contactada pela Lusa, Isabel Ponce Leão garantiu, à época, que a Comissão iria “voltar a ter” uma revisão do Regulamento Toponímico.
“Não posso estar a adiantar o que se vai mexer ou não, faremos uma reunião, daqui a um mês ou dois, para acertarmos e modernizarmos o regulamento”, adiantou a professora catedrática.
Depois de ter sido recusada em várias outras ocasiões, a atribuição do nome de Gisberta a uma rua do Porto dividiu os votos dos membros da comissão. Dos 19 elementos que a compõem, estavam naquela reunião 13, tendo sete votado a favor e seis contra.
À época, contactados pela Lusa, vários membros da comissão admitiam uma revisão do regulamento para evitar confusões e ambiguidades em torno de quem é elegível.
A presidente da comissão, um dos membros que votou contra, disse na altura à Lusa entender que se deve “dar nome de pessoas que tenham feito alguma coisa pelo Porto, o que não foi o caso”.
“Em meu entender, o que se devia pôr era uma placa próximo do sítio onde este crime foi cometido, evocando a pessoa e dizendo o que é que se tinha passado”, declarou.
Já o historiador Joel Cleto foi um dos elementos que votou favoravelmente a medida.
“Houve uma série de pessoas que entenderam que esta visão é demasiado restritiva. Há pessoas que, não tendo diretamente feito nada pela cidade, podem, através do simbolismo da sua morte, ter feito algo pela cidade o que, no nosso entender, é o caso da Gisberta”, disse, em declarações à Lusa, após a aprovação.
Para Joel Cleto “existe um antes e um depois da morte da Gisberta no que diz respeito à tolerância e ao respeito pelas minorias sexuais” e isso “acaba por ter um enorme simbolismo e por ser importante para a cidade”.
O historiador considerou que, “se calhar, nem era preciso alterar as regras”, defendendo que “a Gisberta cumpria as regras”.
“Foi importante para esta cidade e fez alguma coisa pela cidade”, acrescentou.
Já o membro da comissão e ex-deputado municipal da CDU Artur Ribeiro contou então à Lusa que "houve até uma pessoa que até se demitiu por causa disso”.
Em 22 de março, o Jornal Público avançou que Germano Silva tinha abandonado a comissão por motivos pessoais, lembrando, no entanto, que a discussão em torno da atribuição do nome de Gisberta mereceu a desaprovação do jornalista por “violar o regulamento”.
"O regulamento prevê que se dêem nomes de ruas a pessoas do Porto, que tenham feitos notáveis. Se o regulamento está errado então faça-se uma revisão. Mas respeite-se o regulamento", adiantou à época o diário citando o jornalista.
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