Numa ronda feita pelo bairro do Palanca, um dos mais movimentados nos arredores de Luanda, a agência Lusa constatou a maior proliferação de igrejas e cultos evangélicos, a maior parte não reconhecidas pelas autoridades, mas que se multiplicam, com mensagens, crenças e promessas para todos.

“A nossa doutrina é crer no Senhor, como rei e salvador, e batizamos em nome de Jesus. Milagres não dependem de nós, mas sim do Senhor, mas se alguém vier com o seu problema e dizer, o Senhor liberta aparece cura, até para as pessoas portadoras de VIH-SIDA e as doenças saram”, contou à Lusa a responsável do grupo de mulheres da autodenominada Igreja Assembleia de Deus Torre de Rebanho.

Joana Filipe, de 63 anos, diz ser a proprietária do quintal onde foi edificada esta pequena igreja. O barulho ensurdecedor dos batuques, a construção rudimentar e a pouca adesão de crentes não inibe os seus dirigentes a promover o culto.

“Na parte de dízimos ou ofertas os fiéis ainda não estão libertados, mas sempre estamos a ensinar e mostrar que para a pessoa ser abençoada tem que saber dar do dízimo”, confessou, sobre os “donativos” dos crentes, argumentando que a igreja é reconhecida, embora sem especificar.

“Os problemas aqui na assembleia são curados graças às orações que a igreja e os nossos líderes fazem”, assume, por seu turno, Dinis Samuel Sala, um dos 60 membros efetivos da igreja.

O Governo angolano estimou em 2015 que cerca de 1.200 seitas funcionavam ilegalmente no país, tendo avançado com o seu encerramento compulsivo. Dezenas destas juntaram-se em plataformas comuns e congregações, para garantir o reconhecimento e evitaram o encerramento compulsivo.

Noutro ponto da Palanca o ‘pastor’ Josué Leão reservou parte do seu quintal para construir o seu culto religioso, que denominou de Igreja Ministério Avivamento Pentecostal em Angola. Com adornos multicores num púlpito e a presença de instrumentos musicais, o pastor, de 38 anos, explicou que as atividades que ali desenvolve são semanais, com a base doutrinal na bíblia.

“Nós acreditamos na manifestação do Espírito Santo, nós acreditamos na cura, nos milagres e principalmente nos ensinamentos”, apontou este ‘pastor’, garantindo que já é seguido por algumas centenas de fiéis em Luanda.

Em Angola, segundo o Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos, apenas 81 denominações religiosas estão reconhecidas pelas autoridades, sendo que as restantes funcionam congregadas em plataformas religiosas, numa altura em decorre o processo de organização e mapeamento das mesmas para posterior legalização.

O Exército de Restauração de Cristo é uma dessas igrejas congregadas em plataformas, que permitiram o reconhecimento conjunto.

“O dinheiro vem da contribuição [dos fiéis], para suportar os gastos”, disse à Lusa Diamantino Nkosi, tradutor desta igreja, sendo que grande parte dos cultos são ministrados em lingala, língua bantu falada pela maioria da população ali residente, oriunda da República Democrática do Congo.

Foi nesta igreja que Miraldina Dionísia Adelino, angolana, afirma ter encontrado a cura: “Quando entrei nessa igreja estava concebida [grávida], tinha problemas com o pai da minha filha e não achava paz, mas tão logo entrei na igreja, conversei com pastor ele orou para mim deu a paz e hoje estou calma”, explica, convencida da importância e efeitos do culto.

Ainda noutra zona do bairro do Palanca a Lusa encontrou a Igreja Capela Esperança Bendita, uma “esperança” que segundo o seu pastor, Mambo Makiesse, passa “pela crença do regresso de Jesus Cristo na terra”. Enquanto decorria o culto de domingo, o pastor conta que naquele espaço alugado pela igreja acontecem curas e milagres uma vez por semana.

“Cura e milagres têm lugar todas as quintas-feiras ao fim do dia. A igreja tem mais de 80 membros efetivos. Este espaço é de aluguer, é por isso que estamos a rezar a Deus para a igreja fazer um milagre de forma a conseguirmos o espaço”, atira.

A assistir à reza do pastor, o jovem Isaac Kabila conta que desde que se converteu à Igreja Capela Esperança Bendita, a sua vida teve uma mudança radical: “Eu era um membro da maldição, um membro perdido, mas desde que eu me converti aconteceram muitas mudanças dentro de mim”, garante, sem hesitar.

Por Paulo Julião e Domingos António Silva, da agência Lusa

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