"O primeiro-ministro falhou e não o reconheceu, arrepiou caminho vencido, mas não convencido. Os assessores de comunicação e de imagem podem dar uma ajuda, mas não mudam a natureza das pessoas e não lhes dão o estatuto que não têm. Quando o país precisava de um estadista, constatou que tinha apenas um político habilidoso", acusou Assunção Cristas.
Na abertura do debate da moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS no parlamento, a líder centrista argumentou estar a dar voz "à censura popular" e que isso "vale independentemente do desfecho que venha a ter", que é o chumbo já anunciado pela maioria de esquerda.
"A omissão envergonhar-nos-ia enquanto parlamento, porque não estaríamos a honrar quem confiou em nós para os representarmos", declarou.
Para Assunção Cristas, deixar passar este momento "seria uma falha muito grave" na história democrática portuguesa e "um peso" que não "quereria suportar enquanto líder do CDS".
A presidente centrista devolveu as acusações de oportunismo num contra-ataque dirigido a PCP, PEV e BE.
"Quem nos acusa de manobra partidária olhe para si, olhe para as moções de censura que apresentou no passado, olhe para as razões económicas e financeiras então invocadas e em consciência diga aqui, hoje e agora, que essas razões são mais importantes do que a tragédia humana que por duas vezes nos atingiu e toca no centro da existência de um Estado - a proteção das pessoas, da vida das pessoas, e do nosso território", defendeu.
Assunção Cristas sublinhou que a responsabilidade de António Costa pela forma como o Governo lidou com os incêndios foi baseada na sua própria assunção de responsabilidades, a seguir ao incêndio de Pedrógão.
"No dia 12 de julho, perante a insistência do primeiro-ministro em não demitir - ou, sabe-se hoje, aceitar a demissão da ministra da Administração Interna e assim ajudar a reatar a confiança no Estado - fui clara: a partir desse momento a responsabilidade seria exclusivamente do primeiro-ministro. Respondeu-me ‘tudo aquilo que uma das minhas ministras ou dos meus ministros fizer será sempre responsabilidade minha'. É essa responsabilidade que hoje o CDS convoca", vincou.
Assunção Cristas argumentou que "o Governo falhou duplamente" sem comando nem capacidade de ação na Administração Interna e na Autoridade Nacional de Proteção Civil.
Estas entidades "não acautelaram a extensão no tempo de todos os meios, não intensificaram suficientemente os meios de sensibilização das populações para os comportamentos de risco, não fiscalizaram como era exigido, não acautelaram os meios para o fim-de-semana da catástrofe quando todos os avisos meteorológicos apontavam para risco máximo", defendeu.
"Ao invés, deixaram reduzir os meios aéreos quando todas as previsões apontavam para clima quente e seco", apontou.
Para Assunção Cristas, "as decisões do Governo anunciadas neste fim-de-semana são pouco para a profundidade dos danos e para a complexidade dos desafios".
"Os anúncios deste fim-de-semana vêm tarde, muitos tirados a ferro pela palavra do senhor Presidente da República e pela censura popular", afirmou, sobre as medidas decididas em Conselho de Ministros extraordinário.
Antes do início do debate, o primeiro-ministro deslocou-se à bancada do PCP para cumprimentar o deputado e dirigente comunista Francisco Lopes, que perdeu um familiar nos incêndios, conforme foi noticiado por vários órgãos de comunicação social.
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