O diário italiano La Repubblica, a pretexto da tragédia em Portugal, recordou no domingo passado que o Governo italiano corre o risco de ser criticado pelo facto de seis regiões italianas não disporem ainda de meios aéreos de combate aos fogos.
Em França, jornais como o Le Monde ou o Le Temps deram a voz a investigadores do clima, que olham para a vulnerabilidade crescente do sul da Europa e apontam claramente para um alargamento da estação propícia ao fogo, que há 50 anos se reduzia a julho e agosto, e agora se estende entre junho e outubro.
"Corremos o risco de perder a matriz da luta", alertou em declarações ao Le Temps Eric Rigolot, investigador do Instituto Nacional francês de Investigação Agrónoma (INRA).
A ilustração mais próxima dos franceses da constatação dos cientistas ocorreu no sul da Córsega no início deste mês, em que um incêndio em Bonifacio queimou mais de 400 hectares de floresta.
No centro da polémica que envolve o combate a esse fogo está o tempo de chegada do primeiro meio aéreo ao local: três horas e meia foi quanto demorou o primeiro Canadair estacionado em Nimes a despejar a primeira carga de água sobre as chamas no sul da Córsega.
De acordo com os meios de comunicação social franceses, as autoridades corsas de combate aos fogos escreveram ao Governo pedindo ao Ministério do Interior francês que antecipasse a data do posicionamento dos Canadair na Córsega antes do início da estação oficial de combate aos fogos florestais, a 1 de julho.
A proximidade dos meios aéreos junto às zonas mais sensíveis é vista como crucial nos sistemas francês e italiano de combate aos fogos dos dois países, até porque a sua eficácia cai drasticamente pouco tempo depois do início do incêndio.
Os meios terrestres e aéreos estão distribuídos pelos territórios destes países junto às zonas mais sensíveis e o primeiro ataque aos fogos é decidido e coordenado pelas estruturas locais.
Quando a dimensão dos fogos excede as capacidades de resposta locais, os comandos nacionais entram em ação.
Em Itália, a primeira intervenção é feita com os meios terrestres coordenados pelas regiões, que decidem da necessidade da intervenção dos meios aéreos que têm alocados, mas quando estes não são suficientes, entra em ação a frota do Estado, comandada por um centro operativo aéreo unificado.
Ambos os países dispõem do auxílio de meios aéreos militares para o combate aos fogos durante o período do verão.
Para além dos meios locais, o dispositivo nacional de combate a fogos em França dispõe de três unidades de instrução e intervenção da segurança civil dedicadas (690 elementos no terreno); 700 bombeiros-sapadores formados na luta contra os incêndios distribuídos por uma dezena de colónias zonais e de prevenção permanente, podendo ser mobilizados em função das situações; e ainda dois destacamentos de intervenção retardante (com largada aérea ou a partir do solo), composta por 27 operacionais e 4 camiões cisterna por destacamento.
A frota aérea polivalente francesa, para além de 35 helicópteros, é composta por 23 aviões bombardeiros de água com uma capacidade total de transporte de 121.700 litros (12 aviões Canadair, 9 Tracker e 2 Dash) e ainda por três aviões de reconhecimento.
A frota anti-incêndios de âmbito nacional empenhada por Itália na campanha de combate aos fogos em 2017, que começou no passado dia 15 e se prolonga até ao final de setembro, é composta por 16 aviões Canadair, quatro helicópteros Erickson e ainda mais 16 helicópteros pertencentes à força aérea italiana e ao Corpo Nacional de Vigília do Fogo.
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