Em entrevista à Lusa, Delfim Duarte, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e interno de dermatologia no IPO-Porto, explicou que o projeto hoje distinguido pretende “explorar o papel da proteína CD18 na adesão celular”, ou seja, no processo de interação e ligação entre as células da leucemia e da medula óssea.
“A adesão celular é muito importante, porque é graças a ela que as células da leucemia recebem sinais que lhes permitem proliferar, expandir e, por outro lado, sobreviver à quimioterapia”, frisou Delfim Duarte, também docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
A leucemia mieloide aguda, doença “rara” e “bastante agressiva”, tem uma maior incidência em pessoas com mais de 65 anos e é provocada pela “proliferação descontrolada de glóbulos brancos”, tendo como consequência para o doente a perda de células normais do sangue, o aparecimento de cansaço, hemorragias e várias infeções.
Segundo Delfim Duarte, o facto de os vasos sanguíneos da medula óssea, quando expostos a estímulos inflamatórios, aumentarem a expressão desta proteína leva os investigadores a acreditar que a proteína CD18 poderá vir a “promover a ligação entre o microambiente inflamado e as células da leucemia”.
“Esta ligação entre as células e o microambiente vai favorecer o aparecimento de sinais que permitem a resistência à quimioterapia e o reaparecimento da leucemia”, esclareceu.
À Lusa, Delfim Duarte adiantou que caso se prove a “importância da proteína na adesão celular e na sobrevivência à quimioterapia”, será então possível usar fármacos e terapêuticas dirigidas com o objetivo “desprender as células da leucemia do microambiente”.
“Se ela [proteína CD18] for realmente importante para a leucemia, então o objetivo é derrotá-la, usando a estratégia de a retirar dessa adesão para depois a combater”, salientou o investigador.
Além de averiguar o papel da proteína CD18 no reaparecimento da leucemia mieloide aguda, a investigação, que vai decorrer nos próximos dois anos, pretende ainda perceber qual a “percentagem de doentes que a expressam”.
“Já temos alguns dados que sugerem que em alguns subtipos de leucemia mieloide aguda, a sua expressão está aumentada. Queremos ver se é só nesses subtipos ou se é em todos”, acrescentou Delfim Duarte.
A Bolsa D. Manuel de Mello é atribuída anualmente pela Fundação Amélia de Mello com o objetivo de contribuir para a investigação e progresso das Ciências da Saúde, e destina-se a premiar jovens médicos, até aos 40 anos, que desenvolvam projetos de investigação clínica, no âmbito das Unidades de Investigação e Desenvolvimento das faculdades de medicina portuguesas.
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