Segundo vídeos divulgados nas redes sociais hoje analisados, a polícia antimotins bateu com bastões nos manifestantes e lançou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão.
O ayatollah Mohsen Heidari Alekasir tentou dirigir-se aos enlutados junto ao local do edifício Metropol, de dez andares, que ruiu parcialmente na passada segunda-feira, mas foi vaiado pelas centenas de pessoas que ali se encontravam no domingo à noite.
Rodeado de guarda-costas, o ayatollah, de cerca de 60 anos, tentou continuar a falar, dizendo “Meus caros, por favor, tenham calma, em sinal de respeito por Abadan, os seus mártires e as queridas [vítimas] que toda a nação iraniana chora esta noite”, ao que a multidão respondeu “Desavergonhado!”, repetindo, em seguida: “Eu matarei, eu matarei quem matou o meu irmão!”.
A polícia ordenou à multidão que não dissesse palavras-de-ordem contra a República Islâmica e depois que dispersasse, afirmando que o seu protesto era ilegal.
Nos vídeos, é possível ver imagens de agentes policiais a confrontar os manifestantes e a atingi-los com bastões enquanto se erguia uma nuvem de gás lacrimogéneo. Pelo menos um polícia disparou o que parece ser uma metralhadora, embora não fosse claro se as munições eram verdadeiras ou de atordoamento.
Não ficou também imediatamente claro se alguém ficou ferido ou se a polícia efetuou detenções.
A recolha de informação independente permanece extremamente difícil no Irão: quando há distúrbios, as autoridades interrompem as comunicações por internet e telefone nas áreas afetadas, enquanto limitam também os movimentos de jornalistas dentro do país.
Os Repórteres Sem Fronteiras descrevem a República Islâmica do Irão como o terceiro pior país do mundo para se ser jornalista, apenas atrás da Coreia do Norte e da Eritreia.
Mas os pormenores dos vídeos hoje analisados correspondem a características identificáveis de Abadan, cidade situada a cerca de 660 quilómetros a sudoeste da capital, Teerão, e canais televisivos de língua farsi sediados no estrangeiro também noticiaram o disparo de granadas de gás lacrimogéneo e de outros projéteis sobre a multidão no local.
O protesto desafiou diretamente a resposta do Governo iraniano ao desastre ocorrido em Abadan há uma semana, ao mesmo tempo que aumenta a pressão na República Islâmica devido ao aumento dos preços dos alimentos e outros problemas económicos e que se desmorona o seu acordo nuclear com as potências mundiais.
Apesar de as manifestações parecerem, até agora, não ter liderança, até tribos árabes da região se lhes juntaram no domingo, elevando o risco de intensificação da agitação social.
As tensões entre Teerão e o Ocidente já aumentaram depois de os paramilitares iranianos da Guarda Revolucionária terem na sexta-feira apreendido dois petroleiros gregos no mar.
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