De acordo com o jornal britânico The Guardian, a Itália terá iludido a Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto ao seu grau de preparação para responder a pandemias como a da covid-19, fator que terá determinado a gravidade com que a primeira vaga da doença atingiu o país.
Em causa está a comunicação que o país fez à OMS no âmbito do Regulamento Sanitário Internacional — um tratado celebrado por 196 países para combater a propagação de doenças —, tendo feito uma auto-avaliação na qual deu nota máxima à sua capacidade de preparação para lidar com uma emergência de saúde pública.
Esta avaliação foi feita a 4 de fevereiro, três semanas antes de registar publicamente o primeiro caso de contágio por transmissão comunitária da covid-19, e indicava que o país tinha feito uma atualização regular dos seus mecanismos de resposta e coordenação a uma emergência de saúde pública.
No entanto, no ano passado foi revelado que a Itália já não atualizava o seu plano de resposta a pandemias desde 2006, dado corroborado por Pier Paolo Lunelli, um general do exército na reforma que foi encarregado de investigar o documento.
"Mentimos aos cidadãos italianos ao dizermos que estavámos prontos. Pior, tentámos enganar até a OMS, a UE e os restantes países europeus, ao declararmos ter capacidades que, à luz dos factos, não tínhamos", apontou Lunelli.
A falta de preparação da Itália, refere o The Guardian, terá contribuído para 10 mil mortes na primeira vaga da pandemia no país.
Este é também um elemento chave na investigação que os procuradores de Bérgamo estão a prosseguir, sendo que o documento de auto-avaliação foi já dado como prova às famílias das vítimas que avançaram com um processo em tribunal em dezembro. Esta província faz parte da região da Lombardia, a mais duramente afetada pela pandemia na Itália.
No total, Itália contabilizou oficialmente 2.8198.863 contágios desde que começou a emergência sanitária, há cerca de um ano, tendo associadas à doença 95.992 mortes.
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