O navio humanitário, que já estava sancionado há um mês, realizou três operações no último sábado em águas internacionais, tendo, nas duas primeiras, resgatado 33 e 36 pessoas que viajavam em dois barcos “em condições perigosas e sem equipamento de resgate”.

Mais tarde, e depois de ter sido autorizado a ir para o porto de Génova (nordeste), recebeu aviso urgente de que um navio lotado estava em perigo, e por ser o navio mais próximo dirigiu-se ao local, salvando 109 pessoas, 94 delas menores não acompanhados, explicou o capitão do ‘Open Arms’.

O barco da ONG, que atuou “informando sempre as autoridades italianas em tempo real”, dirigiu-se a Marina de Carrara, o novo porto atribuído, onde desembarcou as 176 pessoas resgatadas, incluindo 94 crianças não acompanhadas, e onde há um mês também foi bloqueado e multado.

A ONG, que também agora foi multada em 10 mil euros, considerou inaceitável esta decisão, tomada após seis horas de interrogatório ao chefe da missão e ao capitão do navio, e lamentou que o seu único “crime” foi “salvar 176 vidas em perigo”, disse, em comunicado hoje divulgado.

“Consideramos verdadeiramente inaceitável que tenhamos que sofrer um segundo arresto por termos feito o nosso trabalho, ou seja, por termos respeitado as convenções internacionais e o Direito do Mar”, criticou a organização humanitária.

“Lembramos que é dever do capitão de qualquer navio prestar ajuda aos náufragos em perigo de vida e que a omissão de resgate é, de facto, um crime grave punível por lei”, sublinhou.

A ONG acrescentou ainda que “todas as pessoas resgatadas se encontravam em condições extremas de vulnerabilidade, afetadas física e psicologicamente” e referiu que muitos dos migrantes em perigo eram “rapazes entre os 14 e os 16 anos [afetados] pela viagem, pela violência sofrida e pelo facto de estarem longe das famílias”.

Descrevendo o papel da Guarda Costeira como “muito triste e dececionante”, o fundador da ONG, Oscar Camps, considerou “ridículo que os socorristas profissionais sejam sancionados e bloqueados por terem respondido a um ‘mayday’ em águas internacionais”.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, líder de um Governo de coligação entre a direita e a extrema-direita, comemorou na quarta-feira o facto de a posição italiana “ter prevalecido” sobre o acordo entre os países da União Europeia para o Pacto Europeu sobre Migração e Asilo, ao ter sido retirada uma alteração apresentada pela Alemanha sobre as ONG e depois de a Itália ter interrompido as negociações na semana passada.

Segundo os últimos dados oficiais, mais de 135 mil migrantes chegaram a Itália desde o início do ano, um aumento de quase 50% face aos 72 mil no mesmo período de 2022, impulsionados pela crise na Tunísia, de onde milhares dos subsaarianos estão em fuga.