Na madrugada de 30 de junho de 1966, um incêndio deflagrou na casa do diretor-geral de uma fábrica de miso em Shizuoka, no centro do Japão.
Após a extinção do incêndio, a polícia encontrou os corpos do diretor, da sua mulher e dos seus dois filhos adolescentes. Mas não foi o fogo que os matou: todos tinham sido esfaqueados até à morte.
Iwao Hakamada, que tinha trabalhado para a empresa, foi preso por suspeita de ter assassinado a família, incendiado a casa e roubado 200.000 ienes. Dois anos depois, o homem foi considerado culpado de homicídio e fogo posto e condenado à forca.
O antigo pugilista profissional passou 46 anos no corredor da morte — que se crê ser o tempo mais longo passado no corredor da morte por um prisioneiro em todo o mundo — até ser libertado em 2014, quando surgiram novas provas. Mas em março de 2023 voltaria a ter início mais um processo.
Hakamada garantiu sempre a sua inocência e disse que os investigadores o forçaram a confessar, enquanto os seus advogados alegaram que a polícia tinha fabricado provas: os testes de ADN efetuados em roupas manchadas de sangue provavam que o sangue não era do acusado.
Segundo o The Guardian, agora o juiz reconheceu que três provas tinham sido fabricadas, incluindo a “confissão” de Hakamada e as peças de vestuário que afirmaram estar a usar na altura dos crimes.
"Durante tanto tempo, travámos uma batalha que parecia interminável. Mas, desta vez, acredito que vai ser resolvida", disse Hideko Hakamada, a irmã de 91 anos de Iwao,que tem feito campanha em nome do irmão.
Agora considerado inocente, resta saber se o Ministério Público vai recorrer do veredito, facto desaconselhado devido à idade do acusado.
Neste momento, o antigo pugilista profissional, atualmente com 88 anos, sofre de doenças físicas e mentais e não tem comparecido em tribunal por ter sido declarado mentalmente incapaz de apresentar provas credíveis.
Além de marcante pelo número de anos, esta detenção é também destaque para os ativistas que consideram desumano a forma de tratamento dos reclusos no corredor da morte no Japão: passam anos — ou mesmo décadas — em regime de isolamento, enquanto os recursos vão sendo lentamente apresentados nos tribunais.
Centenas de pessoas fizeram fila à porta do tribunal na quinta-feira, na esperança de garantir um lugar na galeria do público, enquanto os apoiantes erguiam cartazes a exigir a absolvição de Hakamada.
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