Notícia atualizada às 18:17.


"Em Portugal, não há avanço, conquista ou progresso que não tenha contado com as ideias, esforço e luta dos comunistas, do Partido Comunista Português (PCP). O partido que nestes difíceis anos do séc. XXI, de fortes constrangimentos e condicionamentos decrescentes dos órgãos de soberania e pela aplicação forçada do euro, para servir outras economias que não a portuguesa", afirmou Jerónimo num discurso de mais de meia hora, no Rossio, em Lisboa, num comício para assinalar os 100 anos do PCP.

Logo no início, quando explicou o motivo da longevidade do partido, 100 anos depois, Jerónimo de Sousa sublinhou a filiação a "uma teoria revolucionária, o marxismo-leninismo", e, depois de fazer um elogio à experiência do entendimento à esquerda, com os socialistas, de 2015 a 2019, também sublinhou que o PCP não é "força de apoio ao PS".

"Nem instrumento ao serviço dos projetos reacionários do PSD, CDS e seus sucedâneos. Somos a força da alternativa patriótica e de esquerda", disse.

E ao falar do projeto do PCP, de "verdadeira alternativa", pediu "a convergência dos democratas e patriotas", que "não se conformam com um país reduzido a uma simples região da União Europeia" e pediu luta.

É uma alternativa que, disse, "reclama a intensificação e alargamento da luta, de todas as lutas, pequenas e grandes, da classe operária, dos trabalhadores", em torno da "grande central sindical", a CGTP.

Jerónimo de Sousa criticou o Governo, por, no essencial, “manter a política de direita do PSD e do CDS”, e insistiu, a exemplo que tinha feito esta semana, a acusar os partidos de direita de terem em marcha “uma ação revanchista”, com “os sucedâneos Chega e Iniciativa Liberal”.

É um projeto, disse, que “visa a subversão da Constituição e a revisão das leis eleitorais” pela parte do PSD para “formar maiorias artificiais”.

“Sim, o PS, no essencial, não mudou e PSD e CDS e os seus sucedâneos querem o regresso ao passado que o povo condenou”, acusou.

"Quem olhar com atenção e sem preconceitos verá que não há força política que se empenha mais em assegurar os direitos, liberdades e garantias democráticas e o seu exercício nas empresas, no direito de manifestação, à greve, ao direito ao protesto, na exigência e na defesa do funcionamento regular das instituições contra as tentativas de confinar a pretexto da epidemia", aferiu o líder comunista, que frisou que o projeto do PCP é o do futuro.

"Há muito provámos que as vitórias não nos fazem descansar e as derrotas não nos fazem render. Nós, comunistas, sabemos: vale a pena lutar. Sabemos que o futuro não acontece, constrói-se e conquista-se”, afirmou ainda.

Foram algumas centenas de militantes que ouviram o secretário-geral dos comunistas numa praça do Rossio decorada de bandeiras vermelhas e cadeiras brancas, a alguma distância por questões sanitárias devido à pandemia de covid-19.

Jerónimo de Sousa critica planos para “servir interesses monopolistas”

O secretário-geral do PCP recusou que “os proclamados Planos de Recuperação e Resiliência (PRR)”, de resposta à crise sejam uma solução para os problemas do país, frisando que são para “servir os grandes interesses monopolistas”.

No comício para comemorar os 100 anos do partido, no Rossio, em Lisboa, Jerónimo colocou o PRR no lote de soluções com origem na União Europeia para o país, dando como exemplo a intervenção da 'tróika' (2011-2014).

“Não veio a solução, antes uma desgraça maior para o país, quando aqui estiveram a União Europeia, o FMI e o BCE diretamente intrometidos no quotidiano da ação governativa”, disse.

Jerónimo de Sousa também antevê se apresentem soluções com o PRR, apresentado pelo Governo do PS.

“Não virá solução com os proclamados Planos de Recuperação e Resiliência de hoje, em grande medida ditados e formatados por objetivos impostos a partir do exterior e para servir os grandes interesses monopolistas do digital, da economia dita verde, secundarizando a solução dos verdadeiros problemas nacionais”, disse.

Um comício que foi adaptado aos tempos epidémicos, em que os militantes não se abraçaram para cantar A Internacional nem o Avante, e, no final, a voz 'off' apelou “à desmobilização”, com respeito pela distância para dispersar pequenos grupos de militantes que ficavam a conversar.

Foram 35 minutos de discursos, com evocações históricas, com parte ideológicas e de defesa do socialismo contra o capitalismo e em que não faltou a referência ao líder histórico do partido, Álvaro Cunhal, uma das 15 vezes em que Jerónimo foi aplaudido.

Antes do comício, a JCP fez um desfile, com cerca de 100 militantes, por vários locais simbólicos de Lisboa, pelas ruas quase desertas da cidade, quase sem pessoas nem turistas, mas com muitas bicicletas e motos da Uber Eats ou Glovo.

Começou na Rua do Arsenal, onde trabalhava o operário que foi secretário-geral dos comunistas portugueses Bento Gonçalves, segue até à Rua da Madalena, onde, no n.º 225 - 1.º, o partido foi criado, em 06 de março de 1921, na sede da Associação dos Empregados de Escritório.

E seguiu depois até à rua António Maria Cardoso, onde foi a sede da polícia política, que prendeu, torturou e matou militantes do PCP, passa pelo Largo do Carmo, local onde, em 25 de Abril de 1974, Marcelo Caetano se rendeu ao Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura.

Em cada uma delas, foi feita encenação, no caso da sede PIDE, como a distribuição de um jornal Avante, no Largo do Carmo ouviram as emissões do Radio Clube Português, os tiros da PIDE que mataram quatro pessoas no dia 25 de Abril de 1974 e “Grândola Vila Morena”.

* com agências