No início do julgamento, no Tribunal de Braga, num depoimento confuso e marcado por crises de choro, o arguido disse que o pai andava constantemente embriagado, discutia recorrentemente com a mãe sobretudo por questões de dinheiro e que a insultava “quase todos os dias”.
Além disso, admitiu também que ficava “intimidado” com os “toques” que o pai “de vez em quando” lhe dava nas costas, nos ombros e nas virilhas, atribuindo-lhes um cariz sexual.
O homicídio ocorreu em 26 de julho de 2019, um dia depois de a vítima ter regressado de França, onde estivera emigrado desde janeiro.
“Foram os melhores momentos das nossas vidas”, disse o arguido, referindo-se ao período em que o pai não esteve em casa.
Mal chegou, as discussões com a mãe voltaram, tendo a vítima ainda deixado claro que a partir dali “ainda ia ser pior”.
No dia dos factos, ao almoço, o pai voltou a insultar a mãe do arguido.
A mãe foi entretanto trabalhar e o pai foi “dormitar”, para o quarto.
O arguido foi buscar uma machada e desferiu-lhe um número não concretamente apurado de golpes, que o atingiram, além do mais, na cabeça, face, peito, membros e órgãos genitais, acabando por lhe provocar a morte.
A acusação, como hoje sublinhou a juiz presidente, tem cinco páginas com as lesões sofridas pela vítima.
O arguido deixou a machada espetada na cabeça do pai.
“Atuou com frieza de ânimo, aproveitando-se do facto de o seu pai estar deitado a descansar e alheio aos seus intentos, não lhe dando hipótese de qualquer defesa”, sublinha a acusação.
O arguido disse que nunca antes tinha pensado em fazer aquilo e alegou que não se lembra em que partes do corpo atingiu o pai.
“Só sei que fiz isto”, referiu, acrescentando ainda que quis “proteger” a mãe.
Hoje, o tribunal ouviu também a mãe do arguido, que disse ter vivido “muito aterrorizada” com o comportamento do marido e que o filho “tinha sempre muito medo do pai”.
“Até hoje ainda não acredito que o meu filho tenha feito aquilo. Ele morria de medo de objetos que cortassem. Teve de acontecer alguma coisa de muito grave, mas ele nunca me contou, porque é muito fechado, muito reservado”, referiu.
Em relação ao período em que o marido esteve emigrado, disse que “foram quatro meses como nunca tinha tido na vida”.
Disse ainda que o filho “sempre foi muito apegado” a ela, tanto que ainda hoje dormem na mesma cama.
O arguido, que à data dos factos tinha 16 anos, está acusado de homicídio qualificado, um crime punível com até 25 anos de prisão.
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