O porta-voz da Junta Militar, Zaw Min Tun, disse ao serviço birmanês da BBC que a decisão hoje anunciada pelo grupo se deve a pressões dos Estados Unidos e da União Europeia (UE).
A ASEAN realizará a sua cimeira anual de líderes de 26 a 28 de outubro, onde também participarão alguns dos seus parceiros mais importantes, incluindo o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 10 países membros da ASEAN, que inclui Myanmar (antiga Birmânia), reuniram-se num encontro de emergência na sexta-feira e anunciaram hoje de manhã, em comunicado, que vão convidar para a cimeira um “representante apolítico da Birmânia”, excluindo a Junta Militar que assumiu o poder em fevereiro.
“Enquanto reafirmamos o princípio de não ingerência nos assuntos internos de outros Estados membros e damos à Birmânia espaço para restaurar os seus assuntos internos e regressar à normalidade, os participantes [na reunião] aceitaram a decisão de convidar um representante apolítico da Birmânia na próxima cimeira”, é acrescentado na nota, sem dar mais detalhes.
A ASEAN argumentou que não foi possível chegar a um consenso sobre quem representaria o país, uma vez que tanto a Junta Militar, que acabou com uma década de democracia na Birmânia através de um golpe em 01 de fevereiro, como o autoproclamado Governo de Unidade Nacional, formado em abril por políticos e ativistas pró-democracia, solicitaram representar o país.
O porta-voz birmanês criticou hoje à tarde, em declarações à BBC birmanesa, esta tentativa de consenso e destacou que a Junta Militar não vai pedir para deixar a ASEAN, assegurando que tem “muita experiência em lidar com pressão”.
“A interferência estrangeira também pode ser vista” na decisão, disse o porta-voz militar, referindo que antes do encontro se soube que alguns enviados da ASEAN “se reuniram com representantes dos Estados Unidos e da União Europeia”.
Na declaração de hoje, os líderes do sudeste asiático classificaram como “insuficiente” os avanços da junta militar nos cinco pontos de consenso, acordados em abril entre os líderes do bloco e Min Aung Hlaing, para alcançar uma solução pacífica para a crise birmanesa.
Os cinco pontos, que o general birmanês ‘a posteriori’ classificou como “recomendações”, incluem a cessação da violência contra civis, um diálogo de todas as partes para chegar a uma solução pacífica, a nomeação de um mediador da ASEAN e a visita deste.
No início desta semana, o enviado especial da ASEAN para a Birmânia, Erywan Yusof, suspendeu a sua primeira viagem ao país asiático devido à reiterada recusa das autoridades em permitir que ele se encontrasse com a líder destituída, Aung San Suu Kyi.
No seu comunicado, a ASEAN destacou “a importância da visita do enviado especial” e que ele tenha “acesso a todas as partes envolvidas”.
O exército birmanês justifica o golpe com uma alegada fraude massiva durante as eleições gerais de novembro passado, cujo resultado foi anulado e nas quais o partido de Suu Kyi venceu com grande vantagem, tal como já tinha acontecido em 2015, com o aval dos observadores internacionais.
Pelo menos 1.178 pessoas morreram desde o golpe em consequência da brutal repressão perpetrada por polícias e soldados, que atiraram para matar manifestantes pacíficos, segundo dados da Associação de Assistência aos Presos Políticos, que também soma mais de 7.340 oponentes presos na Birmânia.
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