Em entrevista à Lusa, à margem de um ‘workshop’ na Universidade do Minho, em Braga, no âmbito dos programas curriculares dos mestrados em Ciência Política e em Relações Internacionais da Escola de Economia e Gestão, Wouter van der Brug explicou que a candidata da extrema-direita francesa teve uma prestação mais fraca na campanha eleitoral do que se esperaria porque se focou "em assuntos que não dominava".
Para o catedrático holandês, a extrema-direita não está a ganhar apoiantes na Europa, salientando que são os partidos da "social-democracia" que estão a perder votos.
"Ela [Marine Le Pen] não conduziu uma campanha forte porque não se focou nos assuntos que o partido dela [Frente Nacional] mais defende, em que é forte, assuntos nos quais ela tem uma vantagem competitiva", defendeu o especialista, que deixou uma possível explicação.
"Provavelmente pensou que já tinha aqueles votos assegurados e tentou ir buscar outros votos, mas pelo que vejo, ela não conseguiu parecer convincente em questões sobre, por exemplo, a Economia e a Globalização e ela baseou a campanha nesses assuntos", apontou.
Wouter van der Brug considerou difícil uma previsão sobre a campanha para a segunda volta das presidências francesas, que decorre até dia 05 de maio, mas defendeu que Marine Le Pen tem poucas possibilidades de ser eleita Presidente de França, batendo Emmanuel Macron.
"A campanha vai ser imprevisível. Ao que me parece agora, ela tem poucas, muito poucas, hipóteses de conseguir ganhar, a menos que algo realmente grande aconteça, algum incidente ou um grande, grande escândalo com o outro candidato", referiu.
"E mesmo assim ela está muito atrás nas sondagens e seria muito difícil dar a volta, até porque muitos dos franceses que não votaram em Macron na primeira volta não gostam de Le Pen e não estão a por a hipótese de votar nela", explanou.
E caso Marine Le Pen ganhe, Wouter van der Brug não acredita que a líder da Frente Nacional consiga ter um bom desempenho no cargo.
"Mesmo que ela ganhe, acho que não conseguirá ser uma Presidente com sucesso porque tem pouco apoio parlamentar, é uma minoria. Acontece muito em França que o primeiro-ministro seja de outro partido que não o do Presidente, mas para um Presidente de extrema-direita será muito difícil colaborar com os seus inimigos", explicou.
Questionado ainda sobre se os partidos de extrema-direita estão a subir de popularidade na Europa, o professor considerou que não.
"Eu não acho que a extrema-direita esteja a subir. Acho é que aquilo que podemos aprender das várias eleições que têm vindo a acontecer é a perda de espaço da social-democracia", concluiu.
O liberal pró-europeu Emmanuel Macron venceu a primeira volta das presidenciais francesas com 24,01% dos votos, à frente de Marine Le Pen que conseguiu 21,30% dos votos, segundo os resultados definitivos do escrutínio de domingo.
Os dois candidatos, que vão disputar o Eliseu (Presidência francesa) numa segunda volta a 07 de maio, ficaram separados por pouco menos de um milhão de votos.
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