Os dois líderes “arrumaram” as divergências logo no início do debate na TVI, reconhecendo, ambos, que têm conceções muito diferentes da sociedade portuguesa, e passaram à frente, para a troca de argumentos e acusações, embora sem subir o tom nem perder o sentido de humor.

Logo no início, sobre em quem votar, se PSD ou BE, para evitar que o PS tenha maioria absoluta, a líder bloquista ironizou que Rui Rio já dissera que queria “enfraquecer o Bloco” nas legislativas, em vez de ganhar as eleições, ao que o líder social-democrata explicou, com uma gargalhada, que “se quisesse perder eleições tinha que ser internado”.

E, já mais a sério, explicou que os objetivos do PSD passam ir a “eleições para ganhar” e por “retirar o PCP e o BE da esfera do poder”, assim como a esquerda terá um objetivo inverso, com os partidos de direita.

Nos primeiros minutos do frente a frente, Catarina Martins tentou colar Rio ao passado recente do Governo de direita, do PSD e do CDS, que quererem “empobrecer o país”, durante o período de intervenção da “troika”, de terem feito privatizações “por tuta-e-meia”.

Uma acusação que levou o presidente dos sociais-democratas a defender que o anterior executivo teve de aplicar um “programa que não era o seu”, mas sim o negociado pelo governo do PS, de José Sócrates”, que levou o país à bancarrota em 2011.

E foi nesta parte do debate que Rio comparou o programa eleitoral bloquista aos tempos de radicalização revolucionária, após a “revolução dos cravos”, em 1975, o Processo Revolucionário em Curso (PREC), com a nacionalização de bancos e seguradoras, por causa das nacionalizações dos CTT, REN, EDP ou ANA.

“O que está no programa do BE é parecido ao PREC”, afirmou Rio, que alertou para os riscos de estas medidas fazerem “disparar para patamares brutais” a dívida pública portuguesa, que é “a terceira ou quarta mais alta” na União Europeia e “uma das mais altas no mundo”.

“Porque não são tostões, como diz o Bloco de Esquerda”, atirou Rui Rio.

Catarina Martins respondeu com números, pelo menos quanto aos CTT e REN, dado que nas suas contas, a recuperação do controlo público destas empresas custaria 150 milhões de euros (50 milhões para a REN e 100 milhões para os CTT).

E socorreu-se de uma frase no programa eleitoral do PSD, contra as “promiscuidades entre decisores políticos e elites financeiras” para criticar tanto sociais-democratas como socialistas pelo “assalto feito ao país” na mais recente vaga de privatizações.

O BE contou-os e alega que há dezenas de ex-ministros e ex-secretários de Estado do PSD e do PS nessas empresas – na EDP 18, no BES 13, no BCP 17.

Foi essa promiscuidade que a líder bloquista invocou para atacar o programa eleitoral de Rio, em que defende um aumento das parcerias público-privadas na área da saúde.

Rui Rio fez a defesa da sua opção, embora sublinhe que o PSD é a favor do Serviço Nacional de Saúde (SNS) público, “mas não deve deixar de contar com os privados e o setor social”.

“Se um dado hospital conseguir fazer mais e melhor com a mesma verba, eu vou dizer que não?”, questionou, sublinhando que o atual Governo do PS, com o apoio do PCP e do BE, é responsável pelo atual estado do setor da saúde em Portugal.

A líder bloquista ainda criticou o PSD por, a avaliar pelo programa eleitoral, “não querer investir mais dinheiro” no SNS e “não quer contratar” mais pessoas, ao que Rio comentou, fazendo lembrar a frase do líder histórico comunista, Álvaro Cunhal, o debate, em 1975, com Mário Soares, fundador do PS. “Olhe que não, olhe que não.”

Seguiu-se o debate sobre a revisão da lei laboral, em que Rio confessou que o PSD não se importava que a legislação ficasse como está, mas foi sensível ao acordo de concertação social, o que ajuda a explicar a abstenção da bancada social-democrata no parlamento.

E Catarina Martins apontou as críticas ao PS e afirmou que a lei não combate a precariedade nem “puxa pelos salários” dos trabalhadores.

Para o fim, ficou a frase “de sinceridade” do ex-presidente da câmara do Porto.

A uma pergunta do moderador Pedro Pinto, Catarina Martins explicou o que quis dizer, numa entrevista à Lusa sobre os “traços de autoritarismo” do oponente.

A dirigente e deputada bloquista explicou que o que a surpreendeu foi a frase de Rio de que não sentia particular entusiasmo em ser deputado, também numa entrevista à agência. “Quem se candidata tem de respeitar quem elege”, disse Catarina.

Ao que Rio respondeu, “com sinceridade”, que, não sendo “politicamente correto”, dissera isso porque, mais do que voltar ao parlamento, o que o motivou a concorrer a líder do PSD foi disputar eleições legislativas, ganhar e ser indicado pelo partido para primeiro-ministro.