António Costa falava no comício do PS no Porto, que encheu o pavilhão Rosa Mota, num discurso em que defendeu o legado dos seus governos, acusou a atual Aliança Democrática (AD) de “impreparação”, contrapondo com a experiência executiva do atual líder socialista, Pedro Nuno Santos, e advertindo para os riscos e para a complexidade do cenário internacional.
“Costa amigo o povo está contigo”, gritou-se momentos antes de António Costa iniciar o seu discurso. Uma intervenção em que procurou sobretudo dirigir-se aos eleitores indecisos em relação ao sentido de voto nas legislativas do próximo dia 10.
O líder do executivo começou por referir que os seus governos já foram avaliados duas vezes em eleições legislativas.
”Em 2019, fomos avaliados pela forma como virámos a página da austeridade e tivemos bom mais; fomos avaliados em 2022 pela forma como enfrentámos a pandemia da covid-19 e tivemos excelente” disse, numa alusão à maioria absoluta do PS.
Depois, António Costa criticou a forma como a presente legislatura foi interrompida, dizendo que o atual executivo só deveria ser avaliado dentro de dois anos.
“Estamos na situação um pouco estranha do aluno que é sujeito a exame ainda quando nem sequer acabou o segundo período. Para aqueles como Pedro Nuno Santos que é portista, estamos naquela situação em que o jogo com o Santa Clara tinha acabado aos 40 minutos” com os açorianos ainda a vencerem o FC Porto, disse.
Uma imagem que serviu para António Costa transmitir a seguinte mensagem a propósito da decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocar eleições antecipadas: “Em vez de nos deixarem chegar aos 90 minutos para sermos avaliados, interromperam o jogo aos 40 minutos”.
“Mas, mesmo aos 40 minutos, vamos ganhar as eleições”, afirmou, recebendo uma prolongada ovação.
Advertiu também para cenário internacional muito complexo e que os próximos anos serão muito exigentes para Portugal, razão pela qual defendeu que não se deve apostar na inexperiência e em soluções que não funcionam.
“Será que vale a pena, agora que as coisas se começam a endireitar, fazer uma mudança sem segurança, em vez de dar oportunidade ao Pedro Nuno Santos para continuar o trabalho que temos vindo a desenvolver, agora com mais energia, com novas ideias, mas sem mudança de rumo?”, perguntou.
António Costa disse não ter dificuldade em assumir que era possível o seu Governo ter feito melhor.
“Não tenho dificuldade em aceitar que é sempre possível fazer melhor. Mas não é altura de arriscarmos com experiências, nem com a repetição de soluções que já se demonstraram que não funcionam. Não é altura de arriscarmos com experiências de quem não tem experiência”, acentuou.
Já na parte final, fez uma alusão às diferentes sensibilidades existentes no seu partido, mas para desdramatizar esse fator.
“É muito bom que o PS esteja aqui todo, na sua pluralidade, mas também naquilo que é a garantia de confiança que emprestamos ao povo português. Este é o PS que desde Mário Soares nunca deixou de ser o que era e que nunca, em circunstância alguma, deixou de estar ao seu lado em momentos de dificuldade”, disse.
Depois, referiu-se especificamente ao seu sucessor na liderança do PS, fazendo uma alusão ao facto de ter sido secretário de Estado e ministro nos seus governos.
“Pedro Nuno Santos é um político com experiência, que já teve de decidir, teve de fazer escolhas, sabe que não pode prometer aquilo que lhe possa passar na alma, porque sabe que cada promessa tem um custo – e que esse custo é cobrado um dia”, referiu.
Para António Costa, na atual conjuntura, Portugal “precisa de dar outra vez a confiança ao PS e fazer de Pedro Nuno Santos o próximo primeiro-ministro”.
O discurso teve ainda um momento de humor com o ex-secretário-geral do PS a sustentar que a Aliança Democrática (AD) está sem fonte de inspiração para governar, dizendo que os quatro anteriores primeiros-ministros do PSD são incompatíveis com o presente.
“Tenho registado a impreparação que a AD tem para governar. E não é por irem buscar inspiração aos anteriores primeiros-ministros da AD que eles vão conseguir governar nos dias de hoje”, declarou.
O líder do executivo começou por se referir a Cavaco Silva, primeiro-ministro entre 1985 e 1995.
“O mais antigo não governou só numa era em que não havia internet, em que não havia providências cautelares. Ele verdadeiramente governou e conseguiu ganhar eleições quando só havia uma televisão em Portugal, que era aliás comandada pelo seu ministro Adjunto”, declarou, numa alusão a Marques Mendes.
A seguir, falou de José Manuel Durão Barroso, primeiro-ministro entre 2022 e 2004, depois presidente da Comissão Europeia.
“Quanto ao outro, percebeu que governar não era inaugurar e achou que era melhor ir para Bruxelas”, apontou, provocando risos na plateia. O mesmo aconteceu quando falou de Pedro Santana Lopes, que ainda não apareceu na campanha da AD.
“O terceiro [Pedro Santana Lopes], até queria que eles o convidassem, mas eles não convidam”, observou.
Já em relação a Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro entre 2011 e 2015, associou-o ao discurso do Chega.
“E o último veio [à campanha da AD] e o que verdadeiramente fez foi o truque que nós percebemos que eles fazem. Eles dizem para o Chega sair pela porta, mas, depois, o Chega entra pela janela e contamina-os sobre os estrangeiros e outras ideias”, acrescentou.
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