"O nosso objectivo, esta manhã, não é de ruptura nem excludente", disse uma das intervenientes na manifestação da Revolta das Mulheres na Igreja. "Procuramos, isso sim, uma reforma da Igreja a partir da perspectiva das mulheres", acrescentou, de acordo com um vídeo que pode ser visto no Religión Digital.

No manifesto com o qual a iniciativa tinha sido convocada, as organizações signatárias apresentavam-se: "Somos mulheres crentes, Vivemos com paixão o seguimento de Jesus de Nazaré em muitos grupos, paróquias, organizações, movimentos eclesiais e congregações. Estamos comprometidas com a causa de Jesus e lutamos pela renovação da Igreja e a transformação social a partir da perspectiva das mulheres".

A manifestação foi promovida por um conjunto de movimentos católicos, incluindo associações de teólogos e teólogas e algumas comunidades religiosas, e foi replicada em várias cidades ou regiões espanholas, como Saragoça, Valência, Burgos e na Galiza, como se pode verificar na página da Revolta das Mulheres na Igreja na rede social Twitter.

Gritando palavras de ordem como "Limpar e pôr flores, que o façam os senhores", as (e os) manifestantes ostentavam cartazes com fotografias de mulheres relevantes na história do catolicismo, como Maria Madalena, Teresa d’Ávila, Josefina Bakhita, Edith Stein, Simone Weil ou Dorothy Day, entre muitas outras (incluindo várias que foram canonizadas). Em alguns casos, as manifestantes estavam com a boca tapada por um lenço.

Revolta das Mulheres na Igreja
Aspectos da manifestação da Revolta das Mulheres na Igreja, em Madrid. Foto reproduzida da página da Revolta das Mulheres na Igreja, na rede social Twitter

Em muitas mãos, outros cartazes diziam até onde as mulheres católicas estão dispostas a ir, traduzindo esses desejos em palavras de ordem: "Até que deixemos de ser invisíveis", "Levantemos a voz", "Até que tenhamos uma núncia", "Até que os homens ponham flores e limpem as igrejas", "Dignidade e igualdade", "Até deixarmos de chamar sacerdotes aos presbíteros", "Até que as mulheres estejam onde se tomam as decisões", "Até que as linguagem seja inclusiva na liturgia", "Até recuperar as práticas libertadoras de Jesus com as mulheres".

No manifesto, as mulheres diziam ainda: "Levantamos a voz e manifestamo-nos porque vivemos uma profunda discriminação na Igreja e chegou o momento de dizer 'já chega!' Não podemos nem queremos calar-nos. Estamos cansadas das incoerências e autoritarismo que percebemos quotidianamente". Denunciam, depois, a injustiça e a invisibilidade de que, na sua opinião, são vítimas na Igreja Católica, o clericalismo como fonte de muitos males e de violência sobre as mulheres, religiosas ou leigas, ou a "cobardia" para debater mudanças na organização da Igreja. É preciso o "acesso ao diaconato e presbiterado feminino para atender as comunidades cristãs", acrescentam.

Esta realidade, diz ainda o texto, contrasta com o trabalho "incansável e gratuito" nas celebrações religiosas, catequese, pastoral, acção social, voluntariado, movimentos eclesiais, ensino, vida religiosa… "Somos as mãos e o coração da Igreja, mas é-nos negada a palavra, ter voz e voto, poder tomar e decisões liderar", como o recente Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia pôr de novo, a claro, afirmam ainda.

Durante a manifestação de Madrid, as pessoas presentes fizeram memória de muitas mulheres esquecidas ou desvalorizadas pela história da Igreja, como a diaconisa Febe, Tecla, Hildegarda de Bingen, Margarita Porete, Josefina Bakhita… E inclui um minuto de silêncio, com os lenços colocados a tapar a boca, para significar o silêncio a que sentem ser remetidas na estrutura eclesiástica.

Este tipo de movimentos tem crescido, nos últimos anos, com a realização de múltiplas iniciativas, como congressos internacionais e debates. E no ano passado, na Alemanha, houve uma "greve" de católicas. O tema está também em debate no Caminho Sinodal alemão.