A notícia está a ser avançada esta manhã pelo Observador. Segundo o jornal, os três procuradores responsáveis pela investigação no processo que levou à demissão do primeiro-ministro determinaram que existem mais de 20 escutas que ligam António Costa a este caso.

Recorde-se que este processo visa as concessões de exploração de lítio de Montalegre e de Boticas, ambos em Vila Real; um projeto de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, Setúbal, e o projeto de construção de um ‘data center’ na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus.

A operação de terça-feira do Ministério Público assentou em pelo menos 42 buscas e levou à detenção de cinco pessoas: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, foram constituídos arguidos.

Segundo documentos a que a Lusa teve acesso, Lacerda Machado terá usado a sua amizade com o primeiro-ministro para influenciar decisões do Governo e de outras entidades relativamente a projetos da sociedade Start Campus.

Deste caso, decorre uma investigação autónoma ao primeiro-ministro, no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos nos negócios investigados, o que levou António Costa a apresentar a sua demissão ao Presidente da República.

Escreve o Observador que as escutas que envolvem o primeiro-ministro não são resultado de uma ação direta, mas antes porque este falou com alguém que estava sob escuta.

Há ainda a suspeita de que António Costa saberia que estava a ser escutado, isto porque numa conversa com o ex-ministro Matos Fernandes se terá exaltado perante a insistência deste em falar sobre assuntos relacionados com os projetos de lítio e hidrogénio dizendo: “Já te disse, falaremos disso mais tarde!”. O primeiro-ministro terá ainda combinado dois encontros presenciais para falar sobre este tema.

“Não sei a que conversas se referem”, disse Costa ao jornal, recusando ainda que soubesse que algum dos membros do seu governo estava sob escuta.