A voz profunda fascinou a sua geração e várias gerações de jovens músicos, que se deixaram cativar pela personalidade inconformada e imaginação rítmica que produziram clássicos como “Tutti Frutti” ou “Good Golly Miss Molly”.
Little Richard ajudou a dar ao Rock-and-Roll um ar de escândalo, sempre que subia aos palcos com as suas camisas berrantes, que em meados do século XX eram consideradas chocantes, e um inusitado bigode, mais fino do que uma linha de lápis.
Little Richard nasceu em 05 de dezembro numa família pobre de Macon, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, e adotou o seu nome artístico em 1947, altura em que começou a ganhar notoriedade como músico.
Mas o apelido era enganador: na idade adulta, Little Richard atingiu mais de 1,80 metros de altura e fazia valer cada centímetro na forma como se apresentava em palco, o seu ‘habitat’ mais natural.
Em 1951, Little Richard assinou o seu primeiro contrato com a RCA, onde gravou vários álbuns, mas a sua fama construiu-se sobretudo à volta das extravagantes atuações em palco.
A sua influência sobre várias gerações foi considerável, tendo sido reconhecido como um modelo por Buddy Holly, Jerry Lee Lewis ou Elvis Presley, e os Beatles e os Rolling Stones chegaram a servir de bandas de abertura dos seus espetáculos.
Aos nove anos de idade, David Bowie assistiu a um filme em que Little Richard participou e ficou fascinado.
“Sem ele, provavelmente eu nunca me teria tornado músico”, confessou Bowie, pouco tempo antes de morrer.
Little Richard fez-se notar, no início, como cantor de música religiosa (Gospel), mas muito rapidamente transitou para outros géneros e ele próprio ajudou a inventar fórmulas musicais irreverentes.
Também eram irreverentes os seus espetáculos como ‘drag queen’, que o tornaram ainda mais apetecido para as marcas produtoras, pela sua excentricidade e valor como autor de canções.
Em 1995, Litte Richard confessou à revista Penthouse que era homossexual, embora há três anos, numa outra entrevista, tenha dito que considerava a homossexualidade “contrária à natureza”.
“Nunca conheci um artista de R&B [Rhythm & Blues] tão extrovertido, tão selvagem e tão barulhento”, disse Chris Morris, musicólogo, no dia da morte de Little Richard.
Durante um espetáculo em Baltimore, em 1956, um grupo de mulheres que assistia ao concerto despiu-se a atirou as roupas íntimas para o palco, enquanto a polícia procurar impedir os fãs de se atirarem de varandas.
Mas esses tempos de excessos terminaram quando, no auge da sua fama, em 1957, Little Richard cancelou uma viagem à Austrália para se proclamar um missionário da congregação evangélica Igreja de Deus.
Após a conversão, o músico casou-se com Ernestine Campbell, com quem adotou um filho.
Quatro anos depois, o casamento terminou de forma abrupta, com Little Richard a assumir a sua homossexualidade, tendo nessa altura sido detido por comportamento indecente com outros homens, numa casa de banho pública.
Mas nada disso prejudicou o seu prestígio, nem causou mossa nos seus interesses financeiros, alicerçados na venda de mais de 30 milhões de discos em todo o mundo.
Quando o ‘Hall of Fame’ do Rock-and-Roll foi inaugurado, em 1986, Little Richard estava entre os seus membros fundadores, ao lado de Elvis Presley, Berry, Buddy Holly, Jerry Lee Lewis, Sam Cooke e outros.
“Eu sou o arquiteto do Rock-and-Roll”, disse um dia Little Richard, o músico que abriu caminho a Elvis, deu a Mick Jagger os seus movimentos de palco e deu aulas de canto a Paul McCartney.
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