Numa carta enviada aos donos da livraria Poetria pela Imocpcis – Empreendimentos Imobiliários, à qual a agência Lusa teve hoje acesso, pode ler-se que os donos das Galerias Lumière, que pretendem vender o imóvel para a construção dum hotel, pedem a “entrega da loja, livre de pessoas e bens, no prazo impreterível de oito dias”.
A data limite para entregar a loja seria na próxima sexta-feira, dia 23 de abril, mas Francisco Reis, um dos donos da livraria dedicada à poesia e teatro, garantiu à agência Lusa que os livros e as pessoas se imã manter na Poetria, recusando sair no atual contexto de pandemia.
“Até pelo menos ao mês de junho não vamos sair”, acrescentou.
Na carta da Imocpcis pode ler-se que findo o período de oitos dias, se a loja não for entregue “livre e desocupada de bens e pessoas”, vão “agir judicialmente contra essa sociedade”.
“Face à absoluta falta de legitimidade para manterem a ocupação da loja, afigura-se-nos oportuno sugerir a vossas excelências a imediata resolução não contenciosa do problema, uma vez que a solução judicial acarretará incómodas e despesas desnecessárias”, lê-se na missiva.
A livraria Poetria já tinha notificada para abandonar aquele espaço até dia 31 de março, mas os donos recusam sair da loja em tempos de pandemia.
Na altura, Francisco Reis disse à agência Lusa que no atual contexto de pandemia e de estado de emergência seria “impossível a loja sair das Galerias Lumière".
“Não vamos sair no dia 31 de março. Sair agora é impossível, com o estado de emergência e depois de meses fechados e sem faturar”.
Com a vitrina virada para a Rua das Oliveiras, bem no coração da cidade do Porto, junto à Praça Carlos Alberto, Francisco Reis explicava que no entender dos arrendatários o contrato terminava dia 31 de março. Contudo, no entender dele e do seu sócio, Nuno Pereira, o contrato estende-se por “mais quatro anos”, ou seja, até 2025.
As Galerias Lumière receberem, em maio de 2020, um parecer favorável da Câmara Municipal do Porto ao Pedido de Informação Prévia (PIP) para uma unidade hoteleira, adiantou hoje à Lusa fonte da autarquia.
“O PIP já recebeu informação favorável. O projeto foi alterado, dando resposta adequada às questões que tinham sido colocadas anteriormente pela Câmara, mantendo assim uma galeria comercial, de ligação entre os dois arruamentos, ao nível do piso térreo”, lê-se numa resposta, por escrito, da Câmara do Porto.
A 14 de maio de 2020, a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) emitiu parecer favorável condicionado ao PIP para instalação de um hotel nas Galerias Lumière, no Porto, que obteve, em janeiro, uma apreciação desfavorável da autarquia.
As Galerias Lumière foram construídas nos anos 70, com um projeto do arquiteto Magalhães Carneiro.
O edifício é composto por dois andares com várias lojas, tendo uma área central, que funciona como praça da alimentação, que é uma espécie de sala de estar, hoje decorada com peças de mobiliário escandinavo retro e iluminada por uma claraboia.
As Galerias Lumière tiveram o seu apogeu nos anos 80, com duas salas de cinema inauguradas em 1978 e que se chamavam “A” e “L” em homenagem a Auguste e Louis Lumière, os dois irmãos franceses ligados a história do cinema mundial, mas vieram a encerrar em 1997.
Em 2012 e 2013, a empresa proprietária das Galerias, Imocpcis SA, dá início a obras de restauro e de revitalização das lojas e da zona central e em 2014 as Galerias reabrem ao público.
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