“As diversas investigações relativas a branqueamento de capitais envolvendo altas personalidades de Angola com contas em bancos portugueses está a reduzir o apetite de alguns bancos portugueses por ligações com Angola. Uma redução adicional da exposição aos bancos angolanos – que no final de 2018 já tinha caído para um nível ponderado de risco de 0,7%, face aos 2% do final de 2014 — teria um impacto positivo na notação de crédito dos bancos portugueses, dado o fraco ambiente operacional e as debilidades de governação em Angola”, sustenta a agência de notação numa nota divulgada hoje.

Contudo, acrescenta, “uma ligação mais fraca [à banca portuguesa] é negativa para o sistema bancário angolano, que no passado beneficiou do capital e ‘know how’ dos bancos portugueses”.

As contas bancárias de várias figuras proeminentes de Angola, incluindo a empresária Isabel dos Santos, foram recentemente arrestadas, tendo a Procuradoria-Geral da República angolana anunciado que a filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos tinha sido constituída arguida num processo em que é acusada de má gestão e desvio de fundos da companhia petrolífera estatal Sonangol e que visa também portugueses alegadamente facilitadores destes negócios.

De acordo com as investigações em curso, os fundos da Sonangol terão sido transferidos para empresas controladas por Isabel dos Santos, alegadamente através do EuroBic, um banco português cujo capital era detido em 42,5% pela empresária.

O escândalo levou Isabel dos Santos a abandonar a estrutura acionista do EuroBic, acabando o banco por ser comprado pelo grupo espanhol Abanca, e também da Efacec Power Solutions, onde era acionista maioritária, tendo os seus representantes renunciado aos cargos de administradores no grupo.

Segundo recorda a Fitch, “as ligações culturais e económicas entre Portugal e a sua antiga colónia Angola são fortes e foram positivas para os bancos dos dois países no início do milénio, após a longa guerra civil em Angola”.

“Os bancos portugueses aportaram capital e ‘know how’ ao sistema bancário angolano e tiveram um papel instrumental no seu desenvolvimento”, refere, sustentando que “as subsidiárias de bancos portugueses tiveram um papel proeminente em Angola e contribuíram substancialmente para o lucro das casas-mãe, particularmente enquanto a economia angolana beneficiou da alta dos preços do petróleo, até 2014″.

Segundo as estimativas da agência de notação financeira, as operações angolanas terão contribuído com 230 milhões de euros para o resultado líquido dos seis maiores bancos portugueses em 2013-2014, mitigando as perdas das respetivas operações domésticas.

Contudo, recorda, “os riscos colocados à qualidade dos ativos na sequência do volátil ambiente operacional em Angola, até então mascarado pela alta dos preços do petróleo, começaram a ser notórios quando o preço do barril começou a cair, em finais de 2014″ e “vários bancos portugueses saíram entretanto de Angola ou reduziram as suas posições em bancos angolanos, pressionados pelo regulador”.

“As novas normas regulatórias, que obrigaram os bancos portugueses a constituir mais garantias face aos ativos angolanos, e as disputas acionistas em torno de ações detidas por Isabel dos Santos e seus associados em bancos portugueses vieram a reduzir ainda mais o apetite dos bancos portugueses por ligações a Angola”, sustenta a Fitch.

Segundo a agência de notação, atualmente as operações angolanas contribuirão com menos de 100 milhões de euros para o resultado líquido dos seis maiores bancos portugueses.

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