“Eu tinha uma reunião às 16:00 de hoje [19:00 em Lisboa], mas fui informado que talvez ele [Nicolás Maduro] não venha. Será, então, em outro lugar. Quem sabe na próxima (cimeira), o Maduro venha?”, lamentou Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma conferência de imprensa na Casa Rosada, sede do Governo argentino.
Lula da Silva falava ao lado do Presidente argentino, Alberto Fernández, após uma reunião bilateral na qual os dois governos assinaram seis documentos, entre acordos, memorandos e declarações.
Os dois Presidentes foram questionados se aproveitariam a cimeira da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), que se realiza na terça-feira em Buenos Aires, para procurar uma saída democrática tanto para Venezuela como para Cuba.
“Espero que Venezuela e Cuba façam aquilo que quiserem e nós não temos de meter-nos”, respondeu Lula da Silva, depois de defender a “autodeterminação dos povos”, a partir do exemplo da guerra na Ucrânia.
Para o Presidente brasileiro, “a autodeterminação dos povos tem de ser respeitada entre os países”.
“Assim como sou contra a invasão russa na Ucrânia, sou contra a ingerência em assuntos da Venezuela”, comparou, criticando a política de pressão através de bloqueios, sanções económicas e invasões.
“Vamos resolver [a questão na Venezuela e em Cuba] com diálogo e não com bloqueios nem com ameaça de invasão nem com ameaças pessoais. Eu quero para a Venezuela o que eu quero para o meu país: respeito e autodeterminação dos povos. Toda vez que eu tiver de criticar um companheiro, em vez de criticá-lo, vou dar um conselho. A Venezuela vai ser tratada como todos os países merecem ser tratados”, defendeu Lula da Silva.
Brasil e Venezuela estão próximos de restabelecerem relações diplomáticas com a reabertura da Embaixada do Brasil em Caracas, depois da rotura durante o governo de Jair Bolsonaro. O assunto seria tratado pessoalmente entre Lula da Silva e Nicolás Maduro.
“Vamos restabelecer relações com a Venezuela e estabelecer a relação civilizada entre duas nações independentes. E que o povo venezuelano que está fora da Venezuela possa voltar à Venezuela. O Brasil tem um papel importante a jogar nisso”, indicou Lula da Silva.
A oposição política na Argentina, a partir dos testemunhos de venezuelanos exilados no país, apresentou denúncias penais contra Nicolás Maduro. Nos últimos dias, líderes políticos de centro-direita da Argentina pressionaram a Justiça para emitir ordens de prisão a Maduro em território argentino.
Lula da Silva confirmou que a reunião bilateral com o cubano Miguel Díaz-Cané mantém-se conforme previsto para a tarde de terça-feira, no final da cimeira da CELAC.
“Parece-me que Cuba vem”, disse Lula da Silva, defendendo o papel da CELAC, único fórum regional no qual Cuba participa.
A Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos foi criada em 2010 pelo então Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e pelo próprio Lula da Silva, durante o seu segundo mandato. O objetivo era isolar os Estados Unidos que exercia o controlo da Organização dos Estados Americanos (OEA).
“A CELAC é um espaço extraordinário para resolver conflitos. Tenho orgulho de ter participado da construção desse fórum e tenho orgulho de que os cubanos participem. Espero que logo Cuba possa voltar ao processo de normalidade e que acabe o bloqueio a Cuba sem nenhuma necessidade. Eles (os cubanos) não querem o modelo de outro país. Querem o modelo deles e o que nós temos a ver com isso?”, questionou Lula da Silva.
O chefe de Estado defendeu que “o Brasil e os países da CELAC devem tratar a Venezuela e Cuba com muito carinho”.
“Se eu puder, serei um construtor da paz. Aprendi na minha vida política que quanto mais conversarmos, mais chances temos de acordo. As pessoas se esquecem que eles (opositores ao regime de Maduro) fizeram coisas abomináveis para a democracia: reconheceram um tipo que não foi candidato a presidente e que ficou a exercer o papel de presidente sem ser presidente”, criticou Lula da Silva, referindo-se a Juan Guaidó.
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