"Pelo menos 250.000 crianças vivem num estado de sítio brutal em zonas da Síria que se transformaram em verdadeiras prisões a céu aberto", informa a ONG num relatório publicado esta quarta-feira. "Estão isoladas em relação ao mundo exterior, cercadas pelos beligerantes que usam o cerco como uma arma de guerra", acrescenta a Save the Children, que se baseia nos depoimentos de "pessoas que vivem e trabalham em zonas sitiadas da Síria".

Num reduto rebelde a leste de Damasco, o relatório descreve crianças que morrem de doenças evitáveis. "Algumas morreram por desnutrição, outras por falta de medicamentos. Há aqui crianças que morreram de raiva por falta de vacinas", diz o relatório. "As doenças de pele e gástricas alastram, já que o regime cortou o abastecimento de água, e as pessoas servem-se da que fica depositada à superfície. Em geral, contaminada pelos esgotos", descreve o documento. "E as crianças são particularmente afetadas pelas inflamações e infecções pulmonares causadas pelas emanações de fumo das explosões", completa.

Quase não há cuidados obstétricos. "Muitas das mortes são consequência de hemorragias e da impossibilidade de operar. Os partos acontecem em casa, sem contar com uma parteira", conta Amira, uma mãe de família que vive numa zona sitiada no norte da província de Homs (centro). "Algumas crianças morreram, porque não há incubadoras para os recém-nascidos", explica Abud, um assistente de saúde que trabalha perto de Damasco. Muitas famílias entrevistadas para este relatório dizem que ficam sem comer durante todo o dia.

Atualmente, na Síria, mais de 450.000 pessoas estão sitiadas, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Nesta terça, um porta-voz do programa alimentar mundial informou que pelo menos 150.000 delas não receberam qualquer ajuda desde meados de fevereiro.