Esta nova análise foi feita por especialistas portugueses em articulação com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) e foi baseada numa nova ferramenta de modelação feita especificamente para o VIH – vírus da imunodeficiência humana.

António Diniz, antigo diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida que apresenta hoje este novo estudo na conferência internacional de Glasgow sobre a infeção, considera que este trabalho permite uma radiografia mais real da situação do VIH em Portugal.

Os novos dados apontam para menos de 45 mil pessoas infetadas com VIH em Portugal, um número que é menos elevado do que as 65 a 70 mil pessoas que a própria ONU/sida apontava para o país.

Em declarações à agência Lusa, António Diniz explica que a nova análise permitiu estimar que menos de 40 mil das 44.176 mil pessoas estão diagnosticadas, o que dá uma fração de não diagnosticadas de cerca de 10%.

“A fração de não diagnosticadas é menor do que os 25 a 30% que julgávamos”, especificou um dos autores do estudo, que trabalhou em conjunto com outro antigo perito da Direção-geral da Saúde e com uma colega do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

Assim, Portugal parece ter já cumprido o primeiro dos três objetivos traçados pelo Programa das Nações Unidas para o VIH para 2020: ter 90% das pessoas que vivem com VIH diagnosticadas.

Os outros dois elementos da tríade de 90/90/90 definidos pela ONU são atingir 90% dos diagnosticados em tratamento e 90% dos que estão em tratamento atingirem carga viral indetetável (o que torna muito baixa a possibilidade de transmitir a infeção).

Perante os dados dos casos não diagnosticados, António Diniz considera que Portugal não deve abrandar o ritmo do diagnóstico precoce, mas tem de passar a incidir nos outros dois objetivos definidos pela ONU.

Vários são os fatores que podem contribuir para a ausência de diagnóstico, como a noção de risco ou até o acesso aos cuidados de saúde. Mais um motivo é o facto de a infeção por VIH ser uma doença que fica assintomática durante muito tempo.

Outro dado do estudo hoje apresentado mostra que o tempo médio para o diagnóstico após a pessoa ser infetada se situa nos quatro anos em Portugal.

Para se chegar a este valor através da modelação matemática são tidos em conta os níveis de carga viral da infeção e se o doente tem critérios de sida. A partir destes níveis é possível calcular quanto tempo antes terá ocorrido a infeção para se chegar aos níveis atuais.

“Ainda não é o tempo ideal, mas anda longe dos oito ou nove anos que tivemos [há duas ou três décadas] ”, comentou António Diniz.

Os quatro anos até ao diagnóstico são o tempo médio e há diferenças significativas entre os grupos. Por exemplo, os homens que têm sexo com homens demoram menos no diagnóstico (2,8 anos), o que é significativamente menos do que os heterossexuais (cerca de 4,5 anos).

A noção de risco entre os dois grupos parece ser um fator determinante para a diferença no tempo entre a infeção e o diagnóstico.

O estudo hoje apresentado em Galsgow, que reporta a valores de 2014, indica ainda que só nesse mesmo ano terão ocorrido mais de 500 infeções por VIH.

António Diniz considera que este estudo vem mostrar que pode ser possível chegar a 2030 apenas com casos isolados de VIH/sida, sendo que é imperioso que em 2020 se atinjam as metas definidas para 2020 pela ONU.

“Não me parece possível falar um dia em erradicação, acho que vai haver sempre casos isolados. Erradicação conseguir-se-ia eventualmente com uma vacina. Erradicação é o desaparecimento à escala mundial, isso parece complicado. Mas parece-me possível que a infeção deixe de ter caráter de epidemia e que o que exista sejam casos isolados”, projetou o perito português, especialista do Hospital Pulido Valente, que integra o Centro Hospitalar de Lisboa Norte.

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