“Os professores é que vão decidir se querem ou não parar. Pelo que vejo aqui e em outras greves distritais, ninguém quer parar. A luta vai continuar ao longo do tempo, até que o sistema vá caindo aos bocados. Esta luta vai corroer o sistema e nós vamos conseguir o que queremos”, afirmou à agência Lusa Luís Gomes.
Professor do primeiro ciclo há 30 anos, Luís Gomes empunhava um cartaz onde se lia “Abril na Educação”. Na cartolina preta sobressaía a encarnado o mês de abril, coroado com um cravo e, a verde, a palavra educação.
“É necessária uma revolução na educação para que todos possam beneficiar de instrução e de um nível de vida aceitável”, defendeu.
No verso do cartaz, o professor de 55 anos escreveu: “Por mim, por ti, por nós, pelos alunos, por Portugal”.
O docente juntou-se aos colegas das escolas dos dez concelhos do distrito de Viana do Castelo na manifestação marcada por intervenções dos dirigentes sindicais acompanhadas por palavras de ordem, aplausos, cânticos, apitos, pandeiretas e avisos ao Governo: “Costa escuta. Viana está em luta”.
Da escadaria do chafariz da praça da República, palco improvisado para os discursos, Nuno Fadigas, do Sindicato dos Professores do Norte (SPN), anunciou aos manifestantes que a adesão à greve nas escolas do distrito de Viana do Castelo superou os 97%.
Em declarações à Lusa, afirmou que a participação no protesto, que começou de manhã, é “um sinal claríssimo e inequívoco” de que a contestação “não vai parar”.
“Isto é uma onda que ultrapassa os próprios sindicatos. Houve momentos, em que nós [sindicatos] é que íamos à frente. Neste momento, somos nós que acompanhamos os professores”, afirmou.
“Não esperamos mais. É agora ou nunca. Como nunca não é uma possibilidade, só resta o agora e desta vez vai ser. É impossível parar esta onda”, insistiu o docente.
Para Francisco Gonçalves, da coordenação do SPN e secretário-geral adjunto da Federação Nacional de Professores (Fenprof), a manifestação na capital do Alto Minho representa a “demonstração da insatisfação e das exigências dos professores”, enaltecendo a mobilização por acontecer “depois de terem sido convocados serviços mínimos nas escolas e depois de uma reunião, na quinta-feira, com o Ministério da Educação em que nada de significativo foi apresentado”
“Esta é uma importante resposta que os professores do distrito de Viana do Castelo deram às propostas do Ministério da Educação. A resposta é clara. É inaceitável o que nos foi apresentado como solução para os problemas dos professores”, disse, apontando como exemplos “os concursos que não respeitam a graduação profissional, no caso da vinculação dos professores contratados”.
“No caso dos professores do quadro, a criação dos conselhos locais de educação que vão fazer a distribuição de serviço por parte dos professores que tenham insuficiência de horários, cria uma espécie de mega, mega, mega agrupamentos. Isto para os professores é inaceitável”, apontou.
Francisco Gonçalves afirmou que os professores “estão disponíveis para a luta, que vai ser longa”.
“O Ministério da Educação que não pense que os professores vão quebrar. A demonstração que aqui fizeram é de que não quebram, de que estão unidos na identificação dos problemas e nas exigências que fazem ao Ministério da Educação. Somos diferentes, mas estamos unidos na luta”, afirmou.
O dirigente sindical adiantou que na manifestação do próximo dia 11 serão anunciadas novas formas de luta.
“Pararemos imediatamente as greves se forem dadas respostas aos problemas essenciais”, disse.
A greve distrital de Viana do Castelo começou às 08:30 com uma concentração à porta do agrupamento de escolas de Monserrate, seguida de uma marcha pelas principais artérias da cidade, com destino ao Parque da Cidade onde decorreu um piquenique pela educação.
A greve distrital foi convocada por oito organizações sindicais, a Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Pró-Ordem dos Professores – Associação Sindical/Federação Portuguesa dos Professores, Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (Sepleu), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (Sinape), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (Sindep), Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (Spliu).
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