Vítor Silva adiantou hoje à agência Lusa que o incêndio destruiu uma área de pasto, seara e mato, ficou dominado às 02:22 e estava durante a manhã em fase de rescaldo.

No combate às chamas ficaram feridos cinco bombeiros.

Dois bombeiros feridos com "muita gravidade" no incêndio, que sofreram queimaduras, ambos da corporação de Cuba, foram transportados de helicóptero um para o Hospital de Santa Maria e o outro para o Hospital de São José, ambos em Lisboa, indicou o comandante dos bombeiros.

Outros dois bombeiros, que sofreram ferimentos ligeiros, um da corporação de Ferreira do Alentejo e outro de Castro Verde, foram ambos assistidos no local.

O quinto ferido, também ligeiro, é um bombeiro da corporação de Alvito, que foi transportado para o Serviço de Urgência Básica (SUB) do Centro de Saúde de Castro Verde.

O incêndio chegou a mobilizar 165 operacionais, com o apoio de 60 veículos. Durante a tarde de segunda-feira estiveram também envolvidos três meios aéreos no combate.

A Estrada Nacional 2 foi cortada ao trânsito entre Castro Verde e a localidade de Carregueiro e o Itinerário Principal 2 entre a povoação de Entradas e Castro Verde, tendo ambas reaberto ao trânsito na segunda-feira à noite, indicou fonte da GNR.

O alerta foi dado às 17:07 de segunda-feira, tendo o fogo de "grandes dimensões" deflagrado em Lagoa da Mó, perto de Casével, concelho de Castro Verde, referiu o Comando Distrital de Operações de Socorro de Beja.

A GNR vai investigar as causas do incêndio, segundo fonte da força de segurança.

Cerca da 3% da área da Reserva da Biosfera da Unesco em Castro Verde ardida

Cerca de três por cento da área da Reserva da Biosfera da UNESCO em Castro Verde (Beja) ardeu no fogo que consumiu dois mil hectares no concelho, uma zona de proteção especial de aves, foi hoje revelado.

Em declarações à agência Lusa, Rita Alcazar, do Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho e da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), explicou que, embora seja uma “estimativa ainda preliminar”, o incêndio terá afetado “à volta de dois mil hectares da Reserva da Biosfera, ou seja, cerca de 3% da área da reserva”.

De acordo com Rita Alcazar, arderam igualmente várias explorações agrícolas que são “absolutamente essenciais” para a biodiversidade existente na Reserva da Biosfera, lembrando que várias espécies “estão muito dependentes da atividade agrícola extensiva, de sequeiro e de baixo impacto, muito geradora de biodiversidade”.

Segundo a coordenadora da LPN de Castro Verde, algumas aves que foram afetadas pelo incêndio têm no local o seu núcleo principal, embora possam existir em outras zonas do Alentejo, no entanto, o “grande reduto” é na zona consumida pelas chamas.

“Têm aqui o grande reduto, como é o caso das abetardas, dos cisões e se calhar as crias ainda não estavam voadoras e podem ter tido alguma dificuldade em fugir do fogo”, explicou Rita Alcazar, lembrando ainda a existência de outros animais que podem ter passado por perigo semelhante, como o ouriço caixeiro, salamandras, sapos, rãs e outros repteis.

“Num incêndio com estas dimensões, em que a velocidade do fogo é muito grande, não têm velocidade suficiente para fugir e afastar-se da áreas ardida”, explicou.

Rita Alcazar mantém, no entanto, alguma esperança na recuperação da vegetação caso o outono venha a ser normal, ou seja, com chuva.

“Se tivermos um outono normal com chuva a zona recuperará a vegetação. A grande preocupação tem a ver com o facto de termos cada vez anos mais secos, com pouca chuva e isso era essencial. Ter um bom outono para o que ardeu volte a nascer e lentamente recuperar a biodiversidade que aí existia e as condições do solo”, sublinhou a responsável.

O concelho de Castro Verde foi classificado em 14 de junho de 2017 como Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

(Notícia atualizada às 14h36)