A conclusão consta do relatório anual do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que refere que a percentagem de diagnósticos tardios se mantém “superior à observada na União Europeia”, em especial nos casos entre heterossexuais.
O documento, a que a agência Lusa teve acesso e que é divulgado esta terça-feira, salienta que 51,5% dos novos casos de infeção diagnosticados no ano passados tiveram um diagnóstico tardio e que em mais de 30% dos casos a doença já se encontrava avançada.
A proporção é ainda maior quando se analisam os casos em transmissão heterossexual e há diferenças entre homens e mulheres: “Para os casos de transmissão heterossexual a proporção de diagnósticos tardios em homens (65,7%) é significativamente superior à observada para as mulheres (48,4%) e, tal como nos anos mais recentes, os casos em homens que têm sexo com homens são os que apresentam menor proporção de diagnósticos tardios, situação idêntica à reportada noutros países europeus”.
Nos casos de transmissão heterossexual em homens a proporção de diagnósticos tardios atingiu 67,8% nos casos com idades a partir dos 50 anos.
Maioria de casos de VIH em jovens adultos ocorre em homens que têm sexo com homens
O mesmo relatório mostra que os casos de VIH em homens que têm sexo com homens corresponderam a 64,1% dos casos diagnosticados em pessoas entre os 15 e os 29 anos.
A idade mediana à data do diagnóstico dos novos casos foi de 32 anos para os homens que têm sexo com homens, sendo o valor mais baixo de todos os grupos.
Numa análise temporal mais lata, entre 2013 e 2017 verificou-se que quase 80% dos novos casos em homens até aos 29 anos referiam transmissão por sexo com homens.
Na última década analisada, entre 2008 e 2017, o documento aponta para uma diminuição do número de casos na categoria heterossexual (que continua a ser a mais prevalente) em ambos os sexos e também uma “redução sustentada” dos casos associados ao consumo de droga.
Já no caso dos homens que têm sexo com homens, houve uma tendência crescente no número de novos casos até 2012.
Aliás, a comparação entre 2007 e 2016 mostra um aumento de 29% dos casos de transmissão sexual entre homens que têm sexo com outros homens.
De acordo com o relatório, a que a agência Lusa teve acesso, a partir de 2015, no caso dos homens, o número e a proporção de novos casos em homens que têm sexo com homens superou o número de novos casos referindo transmissão heterossexual.
Quanto aos novos casos com diagnóstico apenas em 2017, mais de um terço (37%) foram em homens que têm sexo com homens, mas a transmissão heterossexual continua a mais significativa (quase 60%).
Portugal teve mais de mil novos casos de VIH no ano passado
Mais de mil novos casos de infeção por VIH surgiram em Portugal no ano passado, sendo o grupo etário entre os 25 e os 29 anos o que teve taxa mais elevada de novos diagnósticos.
Segundo o relatório, no ano passado houve 1.068 novos diagnósticos de VIH, o que corresponde a uma taxa de 10,4 novos casos por 100 mil habitantes.
A idade mediana à data do diagnóstico dos novos casos foi de 39 anos, sendo que nos casos dos homens que têm sexo com homens a mediana registou o valor mais baixo de todos os grupos, com 32 anos.
No ano passado registaram-se ainda 261 mortes em pessoas com VIH, 134 delas em estádio sida, a fase mais avançada da infeção. A idade mediana à data da morte foi de 52 anos.
Em termos cumulativos, entre 1983 e final de 2017 foram diagnosticados quase 58 mil casos de infeção por VIH, dos quais mais de 22 mil atingiram o estádio de sida, tendo ocorrido mais de 14.500 mortes.
De acordo com o relatório a que a agência Lusa teve acesso, a área metropolitana de Lisboa acumulou 46% dos novos diagnósticos de infeção por VIH em 2017.
Aliás, concluiu-se que seis municípios da área metropolitana de Lisboa estão entre os 10 concelhos do país com taxas mais elevadas de diagnóstico da infeção nos últimos cinco anos, onde se inclui também o Porto e Portimão.
Nos últimos cinco anos, a cidade de Lisboa acumulou o maior número de casos, bem como a taxa mais elevada de diagnósticos a nível nacional.
Em termos de tendência nos últimos anos, o documento do Instituto Ricardo Jorge aponta para uma diminuição de cerca de 40% do número de novos diagnósticos da infeção entre 2007 e 2016.
O total anual de novos casos foi sendo crescente entre 1983 e 1999, ano com o maior valor acumulado, observando-se a partir daí uma tendência de diminuição anual.
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