Ao segundo dia de greve ao primeiro tempo do horário de cada docente, que se iniciou na terça-feira, com uma adesão estimada pelo sindicato em 80%, e que deveria terminar no dia 13, Júlia Azevedo, presidente do Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE), admitiu hoje prolongar o aviso de greve até final deste mês.

“Estamos aqui hoje porque existe um descontentamento geral, a alteração ao modelo de recrutamento de professores foi precisamente a gota final que fez transbordar o copo”, considerou.

Júlia Azevedo afirmou que os docentes têm “duas grandes exigências”: A primeira é a colocação de professores por graduação profissional e a segunda é a abertura de novos processos negociais que reponham a dignidade docente.

“Nunca aceitaremos a colocação de professores por perfis de competências, nem por contratação direta. Nunca aceitaremos a cunha na educação”, disse, referindo-se “ao recrutamento pelos diretores” e “à distribuição dos professores por perfis de competência”.

E frisou: “Seremos sempre contra e só aceitaremos a colocação de professores por graduação profissional”.

Em relação à abertura de novos processos negociais que reponham a dignidade docente, Júlia Azevedo apontou “a contagem de tempo serviço, o fim das quotas, os horários de trabalho e a aposentação, entre outras”.

“Exigimos que nos devolvam a essência de ser professor porque neste momento não há quem queira ser professor. Isto é um problema que afeta todos. O país sem professores é um país que cai na escuridão. É por isso que estamos aqui nesta luta e vamos até ao fim, porque a luta é dura, mas mais dura ainda é a razão que nos assiste, como dizia Zeca Afonso. Estamos aqui até ao fim”, acrescentou.

A convocação de uma greve ao primeiro tempo de cada docente permite prolongar a greve ao longo do tempo, disse a sindicalista, explicando: “Sabemos que estamos numa maratona, ou seja, vamos ter de ter forças para acompanhar este movimento ao longo do mês de janeiro inteiro”.

Júlia Azevedo disse ainda que o SIPE vai entrar “em convergência com todas as forças sindicais noutras formas de luta”, porque só unidos os professores vencerão.

Apelou ainda ao ministro da Educação para que “veja esta força e perceba que está nas suas mãos parar esta mobilização e reunir com os docentes”.

Além do recuo às alterações propostas pelo ME nos concursos, os professores exigem ainda a abertura de processos negociais com o Governo para a eliminação do regime das vagas de acesso aos 5.º e 7.º escalões com efeitos retroativos pela recuperação integral do tempo de serviço, a redução da componente letiva por idade igual em todos os níveis de ensino revertendo para a componente individual de trabalho, a alteração ao regime da mobilidade por doença, o fim da precariedade na contratação com vinculação automática ao fim de três anos de serviço, a reposição da perda salarial, as não ultrapassagens na carreira entre docentes menos graduados por docentes mais graduados, entre outras.

O SIPE acusa a tutela de nada fazer para resolver o envelhecimento da classe docente, a sobrecarga de horários e de trabalho, e o desgaste daí resultante, além da precariedade na carreira docente.

“As políticas do Governo estão a esvaziar o setor da educação em Portugal. Temos um Ministério da Educação adepto do show-off, que é incapaz de assumir a gestão de assuntos fundamentais para o ensino no país e penaliza constantemente os professores, além de estar a penalizar os alunos e o futuro do país”, criticou Júlia Azevedo.

Segundo a presidente do SIPE, as alterações que a tutela quer impor “são inaceitáveis e vão prejudicar gravemente as vidas e carreiras dos professores, sendo transversais aos professores contratados, aos quadros de zona pedagógica ou aos quadros de agrupamento. É por isso mesmo que os professores estão determinados a agir em conjunto, não só para travar estas intenções do ME, como para exigir de volta tudo o que lhes foi retirado”, acrescentou.