A embarcação com migrantes partiu da costa da Líbia no dia 8 de março, segundo testemunhos de sobreviventes, mas o motor partiu-se após três dias, deixando os migrantes à deriva, sem água ou comida.
“Pelo menos 60 pessoas morreram no caminho, incluindo mulheres e pelo menos uma criança”, afirmou na quinta-feira (e hoje citada pelas agências internacionais) a organização não-governamental (ONG) francesa SOS Méditerranée, cujo navio de resgate se dirige para um porto italiano com 224 sobreviventes a bordo, pessoas que foram recolhidos em três resgates sucessivos.
Segundo a ONG, apenas 25 pessoas que estavam a bordo do barco pneumático foram resgatadas e entre os sobreviventes, que estão “em estado crítico de saúde”, encontravam-se duas pessoas inconscientes, que foram “transportadas de helicóptero para a Sicília”.
“Sabemos que os sobreviventes vieram do Senegal, Gâmbia e Mali”, disse a diretora da ONG, Sophie Beau, citada pela agência francesa de notícias AFP.
“Como é que, mais uma vez, um barco teve que ficar à deriva durante uma semana sem que ninguém viesse em seu auxílio?”, criticou a representante, sublinhando esperar que seja aberta uma investigação.
Também a Organização Internacional para as Migrações (OIM) admitiu estar “muito preocupada” com a notícia de um novo naufrágio no Mediterrâneo Central, defendendo ser “necessária uma ação urgente para reforçar as patrulhas no mar e evitar novas tragédias”.
A rota migratória do Mediterrâneo Central parte sobretudo da Tunísia, Argélia e Líbia em direção à Itália e a Malta e é considerada uma das rotas migratórias mais mortais do mundo.
Após o primeiro resgate de 25 pessoas na quarta-feira, outros 113 migrantes à deriva no mar, incluindo seis mulheres e duas crianças, foram resgatados na noite de quarta-feira, depois de o navio ‘Ocean Viking’ ter sido encarregado pelas autoridades marítimas italianas de resgatar o barco em perigo.
Na quinta-feira, outras 88 pessoas foram resgatadas pelo navio, tendo sido designado o porto de Ancona, na costa italiana do Adriático, como local seguro de desembarque.
O ‘Ocean Viking’ transporta já “224 pessoas a bordo, incluindo 21 mulheres, cerca de 30 menores não acompanhados e quatro crianças menores de 4 anos”, segundo a ONG.
Ancona fica a “1.450 quilómetros da posição do ‘Ocean Viking'” e “foi solicitado às autoridades marítimas italianas um local mais próximo para desembarcar” os migrantes, acrescentou a ONG, num pedido que reforça as críticas contra um decreto sobre as atividades dos navios de organizações humanitárias adotado no início de 2023 pelas autoridades italianas.
A Itália, um dos países da chamada “linha da frente” ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa, exige agora que os navios das ONG humanitárias transportem imediatamente as pessoas resgatadas para um porto, desde a primeira operação, o que, de facto, impede que sejam feitos vários resgates consecutivos.
Além disso, os portos designados são, frequentemente, muito distantes dos locais de resgate, prolongando os tempos de navegação.
As ONG que ajudam os migrantes no mar denunciam regularmente estas medidas, que “têm consequências dramáticas”.
Segundo denunciou em fevereiro a diretora da SOS Mediterranée, todas as organizações de ajuda humanitária já perderam o equivalente a um ano de presença no mar devido à distância dos portos de desembarque designados, e o equivalente a mais um ano devido aos períodos de apreensão impostos aos navios por violarem as novas disposições.
A SOS Méditerranée resgatou mais de 39 mil pessoas no Mediterrâneo desde 2016, principalmente no Mediterrâneo Central.
No total, em 2023, 3.105 migrantes morreram ou desapareceram ao tentarem atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa, segundo os últimos números da OIM.
Segundo a mesma fonte, o número de mortos ou desaparecidos desde janeiro já chega a 360.
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