O Governo interino da Argélia continua sem encontrar uma solução para o impasse político que se criou com a renúncia ao poder, em 02 de abril do Presidente Abdelaziz Bouteflika, provocando uma série de protestos de rua que hoje se voltaram a verificar na capital e em várias cidades do país.
A Argélia está dividida em dois campos inconciliáveis: um protagonizado pelo comando militar que assumiu o poder, com a saída de Bouteflika, outro incorporado por um movimento de protesto contra a solução provisória cujas manifestações de protesto duram há 28 semanas consecutivas.
O Governo interino recusa qualquer outro caminho para sair da crise, que não seja propor uma eleição presidencial para eleger o sucessor de Bouteflika.
O “Hirak”, o movimento de protesto nascido em 22 de fevereiro, rejeita esta solução, considerando inaceitável a realização de eleições promovidas por aqueles que apoiaram o chefe de Estado deposto após seus 20 anos de presidência.
“Estamos cansados dos generais!”, “Abaixo o regime militar!”, são palavras de ordem que hoje se voltaram a ouvir nas ruas de Argel e que se multiplicam por outras cidades do país, de acordo com a Imprensa local e por anúncios feitos nas redes sociais.
“As pessoas querem um período de transição”, exigem os manifestantes, reiterando a exigência de que ex-partidários de Bouteflika deixem o poder, que ficou nas mãos do atual Presidente interino, Abdelkader Bensalah, e do chefe do exército, o general Ahmed Gaïd Salah.
Este general, que tem ao seu lado a máquina militar do país, disse esta semana que é urgente acelerar os preparativos para uma eleição presidencial que ele espera que aconteça nas próximas semanas.
Mas os manifestantes que têm tomado conta das ruas não aceitam estas condições.
As eleições presidenciais convocadas para 04 de julho para eleger o sucessor de Bouteflika foram anuladas devido à ausência de candidatos credíveis, prolongando a crise política e institucional no país magrebino.
Nem mesmo a criação de um Fórum Nacional de Diálogo — um organismo para preparar o processo eleitoral — foi capaz de produzir candidatos sérios para essa eleição, dando razão aos populares que continuam a exigir uma outra solução política.
O Fórum, liderado pelo ex-presidente da câmara baixa do Parlamento, Karim Younis, tem procurado estabelecer a sua legitimidade, em consonância com o movimento “Hirak” e já reconheceu que os seguidores de Bouteflika não têm permitido a realização de eleições livres.
“Estamos na 28.ª semana e as pessoas ainda estão nas ruas para exigir a saída de Ahmed Gaïd Salah”, afirmou Said, um empregado de 54 anos que se juntou hoje às manifestações em Argel.
O Fórum também pede que o dispositivo policial destacado para as manifestações seja mais “leve e tolerante”, como condição para que se estabeleçam condições para novas eleições.
Mas, para os apoiantes do “Hirak”, factos como a proibição de realização de uma Universidade de Verão de uma associação cívica de jovens, composta por vários partidos da oposição, mostra que o regime está cada vez mais férreo.
Hoje, vários manifestantes foram presos, antes do início das marchas nas ruas de Argel, disse Said Salhi, vice-presidente da Liga da Argélia para a Defesa dos Direitos Humanos, na sua conta pessoal da rede social Twitter.
De acordo com o Comité Nacional de Libertação dos Detidos, criado nos últimos dias por famílias de detidos nas manifestações e por advogados, cerca de 40 deles ainda estão sob a alçada policial, alguns desde junho, acusados de “ataque a unidade nacional”, por desfraldarem bandeiras Amazigh (berberes).
Na marcha, jovens envergam camisolas com a imagem de Lakdhar Bouregaa, ex-líder militar da Guerra Revolucionária, 86 anos, preso desde 30 de junho e acusado de violação da lei moral do exército por criticar publicamente o general Gaid Salah.
Nas ruas, os jovens, muitos deles estudantes, pedem a libertação de Bouregaa e, em declarações aos jornalistas prometem intensificar as ações de luta, logo que se inicie o ano letivo, afirmando que o regime não se libertará da pressão popular.
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