Na segunda-feira, o juiz Tareq Bitar, encarregado da investigação à explosão, decidiu suspender os trabalhos, após uma denúncia feita contra ele por um ex-ministro, que levantou suspeitas de envolvimento do magistrado na tragédia, pedindo a sua renúncia no caso.
A explosão em Beirute, em 04 de agosto de 2020 – atribuída às autoridades encarregadas do armazenamento de explosivos, que admitiram falhas nos mecanismos de controlo sobre enormes quantidades de nitrato de amónio – provocou pelo menos 214 mortos, mais de 6.500 feridos e devastou bairros inteiros da capital do Líbano.
As autoridades libanesas rejeitaram qualquer investigação internacional, antes de permitirem, em fevereiro, que um juiz local se encarregasse do processo.
Hoje, centenas de manifestantes conseguiram entrar no tribunal — onde se situa o gabinete de Bitar – e pendurar uma grande placa com fotos das vítimas, com as palavras “Vocês não nos vão matar duas vezes”.
Munidos de retratos das vítimas, bandeiras e estandartes libaneses, os manifestantes criticaram as pressões e as ameaças exercidas sobre o juiz Bitar.
“A questão não se limita ao juiz. A questão é a busca pela verdade”, dizia uma placa empunhada por um dos manifestantes.
“Há 13 meses que sofremos a interferência de políticos (…) no processo de investigação”, lamentou Rima al-Zahed, cujo irmão, funcionário do porto de Beirute, morreu na explosão.
“Quando soube que a investigação tinha sido suspensa, senti que fomos traídos novamente. Que eles estavam a matar-nos uma segunda vez”, acrescentou a familiar da vítima, referindo-se a líderes políticos locais.
O antecessor do juiz Bitar, Fadi Sawan, já tinha sido afastado em fevereiro, depois de altos funcionários do porto de Beirute terem sido indiciados no processo.
Desde que herdou o caso, Bitar convocou para interrogatórios um ex-primeiro-ministro e quatro ex-ministros, incluindo três deputados, mas o Parlamento recusou levantar a imunidade destes.
Hoje o juiz Bitar corre o risco de ter o mesmo destino do seu antecessor: ao longo de várias semanas, esteve no centro de uma campanha de difamação e foi ameaçado por um alto funcionário do movimento xiita Hezbollah, de acordo com os ‘media’ locais.
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