Em declarações aos jornalistas, no fim de um encontro com Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, nas instalações da Presidência da República de Moçambique, em Maputo, o chefe de Estado português considerou que este é "um momento de excelência" nas relações entre os dois países.

"Excelência antes mesmo da cimeira bilateral que virá a ocorrer não muito tempo depois de tomada a posse do Governo português", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

"Excelência em todas as áreas, excelência na área da cooperação económica e financeira, excelência na área da cooperação entre Estados – e o programa estratégico de cooperação aprovado no final do ano passado é a melhor prova dessa excelência", acrescentou.

Antes, também Filipe Nyusi considerou que as relações entre Moçambique e Portugal "estão a atravessar um momento excelente" e saudou "o empenho dos dois governos na revisão e atualização do programa estratégico de cooperação, do programa quadro de cooperação no domínio da defesa".

Referindo-se ao primeiro-ministro português, António Costa, o Presidente moçambicano declarou: "Quando tiver o seu Governo, acredito que estará em Moçambique para darmos andamento [à cooperação bilateral]".

A próxima cimeira bilateral entre Portugal e Moçambique esteve marcada para 04 e 05 de novembro do ano passado, mas foi adiada devido ao chumbo do Orçamento do Estado para 2022 que à dissolução do parlamento português e à convocação de eleições legislativas antecipadas.

A posse do novo Governo chefiado por António Costa, na sequência das legislativas de 30 de janeiro, que o PS venceu com maioria absoluta, está prevista para 29 de março.

Na sua intervenção, Filipe Nyusi lamentou que esta visita do chefe de Estado português não seja mais longa: "O protocolo, não sei o que é que se passa, fizeram um programa muito apertado, que não dá tempo nem sequer para estarmos a conversar a sós".

"Concordo com o querido Presidente e amigo e irmão que não era essa a ideia originária do convite que me formulou: era para uma visita mais longa, com mais tempo, e para percorrer e acompanhar com o seu testemunho aquilo que é a força indómita de Moçambique de enfrentar o futuro", respondeu Marcelo Rebelo de Sousa.

"Não pôde ser assim a visita, os tempos são o que são. De facto, não é possível hoje, nestas visitas, ter a demora de outros tempos", concluiu.

O chefe de Estado português recordou a última vez que estiveram juntos em Moçambique, por ocasião da posse de Nyusi após ter sido reeleito Presidente, em janeiro de 2020, e observou que "não se imaginava" o que aí vinha, "dois anos de pandemia" de covid-19 e depois "uma guerra e os efeitos económicos, financeiros e sociais".

"Por isso estes são tempos internacionais difíceis, mas é nesses tempos que as circunstâncias permitem precisamente demonstrar a amizade, a fraternidade, a solidariedade entre povos como os nossos e países como os nossos", defendeu.

O Presidente português agradeceu "à comunidade Moçambicana que vive em Portugal aquilo que Portugal lhe deve" e realçou igualmente o contributo dos portugueses residentes em Moçambique "para a economia, a sociedade, a educação, a cultura e a afirmação em plenitude da pujança do povo e do Estado irmão".

Marcelo Rebelo de Sousa chegou hoje de manhã a Moçambique para uma visita oficial de quatro dias, a terceira que realiza a este país desde que assumiu a chefia do Estado português.

Marcelo e Moçambique, uma história com meio século

O Presidente da República Portuguesa iniciou hoje sua terceira visita oficial a Moçambique, país a que chama a sua "segunda pátria" e com o qual tem uma história de mais de meio século.

Marcelo Rebelo de Sousa, 73 anos, conheceu Moçambique entre os 19 e os 20 anos, em temporadas de férias dos estudos na Faculdade de Direito de Lisboa, durante o mandato do seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, como governador-geral (1968-1970) da então província ultramarina, em plena guerra colonial.

Nesse período, nasceu a sua amizade com o pintor e poeta Malangatana, cujos quadros encheriam a sua casa em Cascais.

"Recordar como o conheci e como ficámos irmãos é recordar 1968 e o primeiro quadro, comprado com a minha mesada de estudante do 2º. ano da universidade. Mais os encontros em 1969 e 1970, em Lourenço Marques [atual Maputo] e em Matalana", escreveu, quando soube da sua morte, em janeiro de 2011.

Duas décadas depois do 25 de Abril de 1974 e da independência de Moçambique em 1975, Marcelo Rebelo de Sousa visitou o país em funções políticas, como presidente do PSD, ativo na defesa de uma política externa que desse primazia à relação com os países de língua portuguesa, em detrimento da Europa.

Nessa altura, outubro de 1996, cumpriam-se seis anos sobre a assinatura do Acordo Geral de Paz entre a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e dois anos sobre as primeiras eleições livres neste país africano. Marcelo Rebelo de Sousa quis "dar o abraço do PSD a Moçambique" e celebrar "o tempo de democracia".

Em Maputo, foi recebido por Joaquim Chissano, à época Presidente da República, mas também se reuniu com Afonso Dhlakama - que passados estes 20 anos ainda lidera a Renamo - e anunciou "memorandos de entendimento" para a cooperação do PSD com os dois partidos moçambicanos.

Marcelo Rebelo de Sousa afastou-se da vida partidária, mas continuou a deslocar-se frequentemente a Moçambique, sobretudo para conferências e ações de intercâmbio académico, na qualidade de professor universitário de Direito. Chegou a fazer emissões dos seus programas de comentário televisivo a partir de Maputo.

A última visita que fez antes de ser Presidente da República foi em dezembro de 2015, quando era candidato presidencial, para participar no primeiro Fórum Social e Económico de Moçambique.

"Quaisquer que sejam as funções que assumirei no futuro, está presente em Moçambique um tratamento privilegiado, um carinho especial e um entendimento natural que passa por muita gente moçambicana, muita dela responsável, e pelo estreitamento de relações entre países, instituições, economias, culturas e universidades", declarou em entrevista à Lusa, na altura.

Referindo-se à situação de crise político-militar entre o Governo da Frelimo e a oposição da Renamo, o então candidato presidencial acrescentou: "É importante numa situação como aquela que se vive haver amigos de Moçambique - e eu conto-me entre os amigos de Moçambique - que podem, com o seu conhecimento da terra e da gente, contribuir para um clima fundamental para que haja democracia, desenvolvimento e paz".

Marcelo Rebelo de Sousa escolheu Moçambique para a sua primeira visita de estado, em maio de 2016, circunscrita à capital e arredores, e regressou em janeiro de 2020, para a posse de Filipe Nyusi, após a sua reeleição como Presidente, ocasião em que, além de Maputo, foi à Beira.

[Inês Escobar de Lima (texto), José Coelho (fotos) da agência Lusa]