O presidente da República dirigiu-se, no seu discurso, a António Guterres. "Aplaudo, em nome de Portugal, a sua permanente e inesgotável dedicação aos valores da Carta das Nações Unidas. Apoio a nossa agenda comum, as propostas de reforma na governação mundial, incluindo a financeira, mas também as prioridades nunca abandonadas nas alterações climáticas, dos direitos humanos, nos imigrantes, nos refugiados, na igualdade de género".

"Portugal apoia o sucesso da Cimeira do Futuro, em 2024, do Fórum da Aliança das Civilizações que acolheremos em Lisboa no próximo ano, a Cimeira Social Mundial em 2025. Marcas da sua permanente lucidez e dinamismo neste exigente momento que atravessa o mundo para a construção da paz e da cooperação internacional", disse ainda ao secretário-geral da ONU.

De seguida, Marcelo lembrou que no dia de hoje foram já ouvidos vários líderes mundiais que, "apesar de terem diversas posições, concordavam no essencial do diagnóstico: é urgente respeitar a Carta das Nações Unidas para garantir a paz no mundo, é urgente acelerar a luta contra as alterações climáticas, a realização dos objetivos da Agenda 2023, a proteção dos oceanos e da biodiversidade".

O presidente da República referiu também que é necessária a "reforma das instituições", que estão "totalmente afastadas do mundo atual". "É urgente reformar as instituições financeiras internacionais", acentuou.

"Não há paz, nem desenvolvimento sustentável, nem reforma das instituições sem respeito da Carta das Nações Unidas", resumiu. "Não há desenvolvimento sustentável, nem respeito da Carta das Nações Unidas sem reforma das instituições internacionais. Não há reforma das instituições internacionais sem o respeito da Carta, sem a Agenda 2023 realizada, sem um combate eficaz às alterações daqui até essa meta".

"Qual a credibilidade de vir aqui todos os anos dizer o que é urgente, quando de facto não é tratado como urgente? Esse é o apelo do secretário-geral há muitos anos", apontou.

Enumerando vários países que vivem envolvidos em conflitos, entre os quais a Ucrânia, Marcelo lembrou que "o problema é o mesmo", ou seja, não haver respeito do direito internacional e da Carta das Nações Unidas. "Por isso não é possível separar a luta do povo ucraniano da luta pelo respeito da Carta das Nações Unidas, mas também não é possível construir a paz sem acelerar os objetivos de desenvolvimento para 2030".

"Ano após ano, nós prometemos. É tempo de cumprir", afirmou.

Num discurso de doze minutos, feito em português, o chefe de Estado defendeu que sem reforma da ONU e das instituições financeiras mundiais "não há multilateralismo possível, não há cooperação duradoura, não há paz, um pouco por todo o mundo".

O presidente da República fez votos para que daqui a um ano se possa dizer "que há mais paz do que guerra – e não mais guerra do que paz", mais justiça, menos desigualdades, mais ação climática e avanços na reforma das Nações Unidas e das instituições financeiras.

"Se assim não for, continuaremos a ouvir sempre os mesmos, e tantos deles muito influentes, a prometerem e a não cumprirem – e perceberemos por que é que os povos acreditam cada vez menos naqueles que os governam", advertiu.

Marcelo Rebelo de Sousa foi o oitavo chefe de Estado a intervir neste primeiro dia do debate geral anual entre chefes de Estado e de Governo dos 193 Estados-membros da ONU.

Na sua intervenção, assinalou o acordo que Portugal celebrou com Cabo Verde para converter a dívida desse país num fundo ambiental e climático e considerou que "isso deveria acontecer sistematicamente com as dívidas existentes e com o financiamento do desenvolvimento sustentável".

"É nosso objetivo alargá-lo a outros países da comunidade de língua portuguesa", adiantou.

Segundo o Presidente da República, "as organizações financeiras que existem não são capazes de financiar o desenvolvimento sustentável com equidade e com justiça – favorecem os mais ricos, desfavorecem os mais pobres".

Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que a atual composição do Conselho de Segurança da ONU "corresponde a um mundo que já não existe" e reafirmou que Portugal é a favor de uma reforma deste órgão criado para manter a paz e a segurança internacionais.

"Portugal há muito que defende que países como o Brasil ou a Índia deviam ser membros permanentes, que a posição africana comum devia ser tomada em linha de conta, que os pequenos países não podiam ser ignorados", referiu.

O Conselho de Segurança da ONU tem cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que têm direito de veto: Estados Unidos de América, Federação Russa, França, Reino Unido e República Popular da China.

Destes cinco, só os Estados Unidos da América se fizeram representar ao mais alto nível, pelo Presidente Joe Biden, nesta 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU que hoje começou em Nova Iorque.

Portugal é candidato a um lugar de membro não-permanente no Conselho de Segurança da ONU no biénio 2027-2028.

Defendendo que "é urgente reformar as instituições concebidas no século passado", porque "estão totalmente afastadas da realidade do mundo atual", Marcelo Rebelo de Sousa criticou – sem nomear ninguém – aqueles que adiam soluções para essa reforma, que não contribuem para a paz e que atrasam os objetivos de desenvolvimento sustentável.

*Com Lusa