“Sinto que aquilo que se passa no mundo é uma grande mudança geopolítica, económica, social, científica, tecnológica e que é natural que as gerações mais jovens tenham um papel maior nessa mudança”, disse aos jornalistas Marcelo Rebelo de Sousa na sequência da sua intervenção na abertura da 8.ª edição das Conferências do Estoril, que decorre no Campus de Carcavelos da Nova SBE.

Na opinião do Presidente da República são precisos “novos heróis a todos os níveis”, referindo que “os heróis só surgem de novas ideias e novas lideranças, de haver essa mudança”.

“Isso é inevitável. Aliás disse que contra mim falo porque verdadeiramente sinto que a repetição apenas de fórmulas do passado muitas vezes é útil, noutras vezes não abre futuro”, enfatizou.

Deixando claro que se pronuncia especificamente sobre a realidade portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa apontou que “muitas vezes a nível internacional as soluções que aparecem são mais do mesmo”.

“Há determinados líderes, alguns deles há décadas, décadas, décadas e depois aquilo que surge como alternativa para o futuro são os mesmos líderes por mais quatro anos, cinco anos”, disse.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu que os sistemas políticos europeus “ainda são muito adversos a isso a essa mudança” e “isso leva a que apareçam novas forças, novos movimentos corporizando a ideia da mudança”.

“Se virmos a nível a nível universal o tipo de mudança em grandes países, em grandes potências é muito pequeno e isso também se verifica em instituições de outra natureza e eu sinto que inevitavelmente isso terá um custo no futuro”, observou.

O apelo do Presidente da República é “para mudanças de ideias, mas que exigem lideranças que sejam inspiradoras”.

“O mundo mudou e a resposta para a pergunta crucial é apenas uma: precisamos de líderes inspiradores, não apenas fazedores. Alguns desses fazedores podem ser inspiradores, mas a maioria desses não são mais”, tinha dito no seu discurso na abertura do evento, que foi feito em inglês.

Questionado se esta mudança se devia aplicar ao seu sucessor no Palácio de Belém, Marcelo deixou claro que a sua intervenção “não tem nada a ver com eleição a, b, c, d”.

“Tem a ver com o papel da juventude nos sistemas políticos ser maior ou ser menor, tem a ver com em alguns temas o papel da mulher ser maior ou ser menor ou ser ainda muito baixo, o papel dos migrantes ser maior ou ser menor ou ser nulo praticamente nos sistemas políticos. Há determinadas centenas de milhares de pessoas, ou mais do que isso, que existem, fazem a sua vida e não contam para o sistema”, lamentou.

O chefe de Estado foi ainda questionado sobre a notícia avançada pelo Observador de que o primeiro-ministro, António Costa, terá falado no Conselho de Estado de 21 de julho sobre a equiparação de buscas aos partidos às dos advogados e a clarificação da lei do financiamento.

"O primeiro-ministro inicia com uma breve intervenção, mas ali o primeiro-ministro tinha acabado de falar no parlamento nesse dia sobre o mesmo tema e depois conclui porque ouve as várias intervenções e se o quiser fazer, normalmente quer, intervém", explicou.

Escusando-se a contar o que se passa no Conselho de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a referir que nessa última reunião o primeiro-ministro não utilizou a possibilidade de comentar o que tinha ouvido "porque já tinha passado um tempo mais longo do que o previsto para a sua saída".

"[O Conselho de Estado] é um dos casos ao longo dos últimos oito anos em que se pode dizer, tirando um ponto ou outro, que não tem saído genericamente aquilo que lá se passa. O que é bom, acho que é um bom sistema como também não tem saído nunca das audiências do Presidente com o primeiro-ministro", respondeu quando questionado como via o facto de serem divulgadas informações sobre o que se passa no Conselho de Estado.

(Notícia atualizada às 12h49)